Simplesmente José.


Nota do CM: O CM adverte os seus leitores que a leitura deste texto pode causar danos psicopáticos irreversíveis pelo que recomenda que o leitor leia antes um artigo qualquer do Diário.


O s pequenos calhaus de basalto rolavam com as ondas da praia quando o José olhou para o relógio. Já eram quase seis horas, o calor era intenso e sentia a boca seca. José trabalhava há dez anos nas obras da Marina do Lugar de Baixo, debaixo de um sol tórrido como ajudante de pedreiro carregando baldes de cimento para deitar no mar.

Deu as seis horas, finalmente estava na hora! José pegou no saco do termo onde a mãe lhe colocava a sopa de couve, tirou um pero, deu uma dentada e saiu da obra. Como morava perto, José preferia ir a pé, sonhando que um dia ia ser mestre, comprar um carro e casar finalmente com a Lucília.

Enquanto percorria a marginal olhava, de vez em quando, para trás admirando o Sol sobre o mar, deixando o vento fresco do entardecer afagar-lhe a cara suja e suada.

Uns metros depois, José levantou a cabeça e sorriu, estava a chegar ao seu destino! Todos os dias o José parava na tasca do Agrela. Deixou a mochila à porta, entrou, tirou uma moeda de cinquenta cêntimos do bolso, atirou-a para o balcão e exclamou “um catre litre!”.

Sem dizer uma palavra, o Agrela pegou no jarro de plástico sujo e cheio de bolor, colocou um copo ainda molhado sobre o balcão e encheu-o. O José, sem olhar sequer para o tasqueiro, levou o copo à boca e, sem respirar, despejou-o pela garganta abaixo. Arrepiou-se…respirou fundo… tirou outra moeda do bolso e pediu “outro!...”. O tempo passou e ao quinto copo o Sr. Agrela já lhe enchia o copo sem ele pedir.

O Sol já se escondia atrás do cais da Ponta do Sol quando o José saiu da tasca a cambalear. A estrada para casa parecia-lhe cada vez mais estreita e, quando já tinha andando vários metros, algo o fez parar! 

À sua frente estava a bela Lucília, parada, impávida, com lágrimas nos olhos. A Lucília olhou o José nos olhos e exclamou “…tás completamente perdide!…”

Parado e encostado ao muro, José não conseguia esboçar uma palavra. Lucília voltou-lhe as costas, afastou-se uns metros, olhou-o por cima do ombro e proferiu as ultimas palavras “preferes ele a mim? Fica com ele!...” 

José ficou sério! A mulher que ele amava desistiu dele e não conformado levantou as mãos e gritou “Lucília! Um dia vou ser rico! Todas estas bananeiras vão ser minhas! Vou comprar um Mercedes Benz com faróis de nevoeiro! E um dia, os políticos e os juízes, vão ser todos meus empregados!

Lucília parou, olhou para trás e sussurrou “o que o álcool faz…”

Post Scriptum: O humor no CM está a ficar intelectualmente depravado! Para conseguir perceber este texto tive de o ler cinco vezes.