O Anjo


U ma amiga minha disse-me uma vez que o Pedro tinha cara de anjo e eu desatei-me a rir. Espantada, ela olhou para mim e insistiu que ele era um bonitão, que aquele ar sério e austero era excitante para qualquer mulher, e que até não se importava de dar uma voltinha com ele. 

O que eu nunca lhe disse é que conhecia o Pedro, desde os tempos em que ele entrou para uma empresa de contabilidade, onde até o dono da empresa veio trabalhar para o nosso espaço, deixando o Anjo ocupar o gabinete dele. Todos ficamos perplexos porque nenhum de nós percebia na altura a importância do Anjo.

Com o tempo, o Anjo veio a revelar-se uma desilusão. Fomos descobrindo que, o ar de sério e honesto que ostentava, era um modo de esconder grandes lacunas técnicas que tinha na área da contabilidade e, até um colega meu, questionou-se sobre o que ele aprendeu na universidade. 

Quem privou com ele foi descobrindo que afinal o Anjo era igual a tantos outros que faziam suspirar as teenagers pela aparência mas, sem o necessário sumo que excita uma mulher. 

Hoje, quando vejo o Pedro na televisão, questiono-me como é ele conseguiu ir tão longe e ser agora um dos homens mais poderosos da política desta pequena ilha. Rio-me com o seu diálogo arrogante e simplista, falando do que não conhece, e divirto-me a imaginar o esforço intelectual que ele está a fazer para se moldar a uma imagem que não é dele.

Cheguei à conclusão a que maioria das pessoas inteligentes já chegou. A política é fácil para quem tem uma boa imagem e sabe contar até dez. No fundo, basta ter conversa de engate e convencer os outros que precisam deles, porque são os melhores de entre todos. A cada dia que passa, fico cada vez mais convencida de que a maioria dos políticos vence na vida por apenas conseguirem esconder as suas fraquezas e vender ao público uma imagem imaculada de Anjo.

O Pedro envelheceu mas, continua a ter a imagem de alguém em que poucos confiam. Há sobretudo a firme convicção de que tudo o que faz ou quer, tem por detrás segundas intenções.

Miguel Albuquerque e Rui Barreto são outros Anjos, produtos de marketing com uma imagem que vende pela aparência, mas que na prática têm vindo a revelar-se, nestes últimos anos, uns desastres. Causam a descrença dos mais esclarecidos na política.

A vida ensinou-se em não confiar em Anjos porque o Diabo também já foi um Anjo que traiu Deus.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 9 de Setembro de 2021
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