Não basta surfar!

 

P or estes dias, o partido Chega Madeira decidiu pronunciar-se sobre o estudo de impacto de ambiental relativo ao “Caminho das Ginjas – Paúl da Serra” (DN: Chega Madeira sugere projecto alternativo para as Ginjas), começando por dizer que era “incompreensível” que o EIA “consolide os erros e as ameaças a este património natural, viabilizando o asfaltamento da estrada”! Que esta declaração fique registada para memória futura.

Penso que o porta-voz do dito partido, cujo nome não é referido na notícia, pensa que é o primeiro partido a surfar os temas da atualidade que lhe podem garantir alguns votos. Outros já o fizeram antes! E também achavam inconcebível rasgar a Laurissilva, como o Dr. Rui Barreto em 2019, mas que agora não só está calado, como até concorda com o projeto:

Defender uma opinião, ou uma posição, não é vir para os meios de comunicação social debitar meia dúzia de baboseiras. Senhor porta-voz do Chega não basta surfar uma onda oportuna, há que mergulhar para melhor conhecer o mar!

O dito porta-voz, que nem o matutino se dignou apelidar, sugere um projeto alternativo. Este senhor pretende a transformação do troço, entre as Ginjas e os Estanquinhos, num percurso pedonal e de prática de Downhill! Quem vai impedir os praticantes, desta modalidade ou de qualquer outra, de penetrar em trilhos ou percursos já existentes, ou até mesmo criar traçados alternativos ao percurso principal? Em pouco tempo, o Parque Natural da Madeira estaria transformado no “Parque de Prática de Downhill”! 

Talvez ele não saiba, mas o caminho das Ginjas é um caminho florestal e, como tal, deve permanecer para que os idiotas, sem preocupações ambientais, não possam colocar lá os pés!

Ao contrário do que muitos pensam, a prática de Downhill não é assim tão amiga do ambiente e os riscos são mais do que muitos:  

  1. Diminui do crescimento e da diversidade da cobertura vegetal;
  2. Promove a dispersão de espécies exóticas;
  3. Altera a comunidades vegetais e animais; 
  4. Destrói a camada superficial de matéria orgânica e a fauna edáfica;
  5. Compacta o solo;
  6. Reduz da capacidade de infiltração do solo;
  7. Aumenta da água superficial e erosão com repercussões no crescimento da vegetação;  
  8. Diminui da qualidade do solo;
  9. Perturba dos habitats, especialmente na época de nidificação; 
  10. Modifica o comportamento das espécies animais. 

Para não falar do aumento de risco de incêndio, da poluição atmosférica e sonora, do abandono de lixo, etc. Poderia continuar a lista, mas seria muito cansativo para a “cabecinha pensadora do senhor porta-voz” … Como pode verificar, os impactes negativos são numerosos! A partir daqui quem suportaria a degradação da Floresta da Laurissilva? O seu partido? Ou os senhores empresários do turismo porque no fundo são apenas eles obtêm o maior benefício económico da exploração da Floresta Laurissilva, mas na qual nunca investiram um cêntimo! É com profunda tristeza que vejo como a natureza é sacrificada, esventrada para ser exposta no altar do turismo! 

Já não há lugar para o mistério, para o recôndito, nem para o silêncio! Já não há espaço para que a natureza possa desenvolver-se no seu máximo esplendor! Já não queremos saber do que a Floresta Laurissilva tem para nos oferecer! E na ignorância, de quem nos mata a sede, arrastamo-la para a destruição! Deixar a Laurissilva em paz, é assim um preço tão elevado que não possamos pagar?

Quinta-feira, 11 de Fevereiro de 2021 00:19
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