O dia em que Costa ameaçou demitir-se por causa de Camarate

 

O Presidente da República veio agora publicamente dizer que Camarate foi, na sua opinião, um atentado e não um acidente. Em 2000, António Costa ameaçou demitir-se quando um político disse mais ou menos o mesmo. O que pensa agora o primeiro-ministro?

Num vídeo a propósito dos 40 anos da morte do antigo primeiro-ministro, divulgado no programa Expresso da Meia Noite, na SIC Notícias, Marcelo é claro, afirmando que Sá Carneiro "morreu num atentado". 

A mesma ideia foi repetida pelo chefe do Estado, sexta-feira, numa iniciativa pública sobre a tragédia de Camarate.

A afirmação de uma convicção é legítima. Todos podemos acreditar no que quisermos. Talvez seja um pouco diferente quando se trata do Presidente da República. E quando o que se diz contraria o que o Estado afirma oficialmente sobre o tema?

A Justiça portuguesa, bem ou mal, considerou não ter havido um atentado contra o Cessna em que viajavam Sá Carneiro, a sua mulher Snu e o seu chefe de gabinete, Patrício Gouveia, o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e a mulher, e ainda os dois pilotos, a caminho do Porto, na noite de 4 de dezembro de 1980.

Mas o Presidente da República entende o contrário. E vai contra o que as instituições do Estado investigaram, entenderam e apuraram. Marcelo cidadão pode pensar o que entender. Mas o Presidente deve medir o que diz e o seu impacto.

Há vinte anos, precisamente por esta altura, precisamente quando se assinalava um aniversário da morte de Francisco Sá Carneiro, um ministro ameaçou demitir-se do Governo depois de ouvir críticas ao funcionamento da Justiça, por esta ter arquivado o caso Camarate, sem conseguir provar ter-se tratado de um atentado.

Há vinte anos, precisamente por esta altura, Ricardo Sá Fernandes, advogado das vítimas de Camarate e então secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, dizia ter-se tratado de um atentado e criticava a atuação da Justiça portuguesa, publicando mesmo um livro sobre o tema.

Há vinte anos, precisamente por esta altura, António Costa, então ministro da Justiça, anunciava publicamente a vontade de se demitir depois do que ouvira do colega de Governo, considerando essa posição inaceitável.

Na altura, António Guterres, primeiro-ministro, deixou cair Sá Fernandes e segurou António Costa quando este recusou qualquer tentativa apaziguadora e conciliatória por parte do chefe do Governo.

O que pensa hoje António Costa, primeiro-ministro, ao ouvir o número um da hierarquia do Estado e o mais alto magistrado da Nação dizer o que disse sobre o que aconteceu em Camarate?

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Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 9 de Dezembro de 2020 19:58
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