Pedro, o simplificador.


H á mais de duas horas (de tempo) que os jornalistas idóneos do Correio da Madeira esperavam pela presença do candidato da coligação PSD/CDS/CHEGA à Câmara Municipal do Funchal. O Correio da Madeira, o único órgão de imprensa regional com o selo de reconhecimento de qualidade da ERC, foi convidado para a apresentação do programa eleitoral da coligação à Autarquia. Na mesa da conferência de imprensa estava apenas um ramo de alecrim para o mau-olhado e uma especialista em linguagem gestual surda.

E, quando os jornalistas idóneos preparavam-se para irem embora morfar uma sandes de espada com cebolada, no “Design Center”, chegaram finalmente os convivas visivelmente alegres e ofegantes. À frente da Banda Filarmónica da JSD, vinham Pedro Calado e José Luis Nunes, logo seguidos pela candidata a presidente da Câmara Municipal, Cristina Pedra que acenava para o povo.

Pedro Calado, sempre muito simpático, cumprimentou os jornalistas, sentou-se e imediatamente passou a palavra a Cristina Pedra que, depois de endireitar a mise do penteado, anunciou o fantástico programa da coligação, começando por dizer que o objetivo é simplificar os processos na maior Autarquia da Madeira.

Para que o Funchal fique sempre à frente dos interesses dos funchalenses, a futura presidente da Autarquia anunciou que a estratégia da equipa, que ela lidera, passará pela substituição da complicada contratação pública pela opção adjudicação direta, por ser economicamente mais vantajosa para todos.

As Licenças de Construção serão abolidas e, com o objetivo de simplificar, o PDM terá apenas uma zona de edificação, isto é, o Funchal todo. Para descanso das imobiliárias, adiantou que que não haverá limite de pisos, desde que os arquitetos optem pelo piso recuado inventado pelo Rui Alves.

No que ser refere à água, a Autarquia concessionará por um prazo de 200 anos à empresa LÍDER-AGUAS e concluiu, satisfeita, que com esta simplificação a Autarquia deixará de cobrar água aos funchalenses. No que respeita ao saneamento básico, Cristina Pedra informou que será implementado o princípio do defecador pagador, ou seja, quem defecar mais, mais paga e concluiu que mais simples e justo que isto não há! As famílias numerosas têm uma opção, provocar prisão de ventre, é lógico que nesse mês a factura vem a zeros. 

No que respeita à recolha do lixo, os funchalenses serão incentivados a entrega-lo nos Viveiros, recebendo em troca Vouchers que poderão ser trocados por cruzeiros ao Porto Santo ou por resmas de papel A4 da sua papelaria. 

Para o problema do trânsito caótico e para simplificar, Cristina Pedra anunciou que serão construídos parques de estacionamento gratuitos sobre as ribeiras do Funchal e que os semáforos passarão a ter apenas a cor laranja, intermitente com rosa e azul, conforme as voltas políticas que der.

Também para simplificar, o Mercado dos Lavradores será concessionado ao Grupo Café do Teatro, ficando aberto toda a noite em Happy Hour. 

No Parque de Santa Catarina será construído um Resort financiado por traficantes mecenas para alojar os sem-abrigo e os toxicodependentes. 

A cultura e o Teatro Municipal serão entregues à comunidade Gay com o objetivo de promover o Bairro de Santo Amaro a património da humanidade.  

Com aquele ar inteligente que se lhe reconhece, Cristina Pedra anunciou finalmente que a sua maior aposta será no meio ambiente, por isso as ruas do Funchal passarão a ser limpas com Mistolin.

Já cansada com a laca a não suportar a juba, Cristina Pedra concluiu que com estas extraordinárias inovações da coligação, os funcionários da Autarquia serão reduzidos a 100 militantes do PSD mas que poderão optar por ficar em teletrabalho, na sede do PSD ou do CDS, se este ainda existir. O Chega terá instalações numa tenda na rua para poderem treinar zaragatas à vontade.

Para terminar a conferência, Pedro Calado afirmou que, com ele, o Funchal andará sempre à frente, agradeceu a presença dos jornalistas e mostrou-se disponível para responder a qualquer pergunta, desde que tenha o carimbo de fidedignidade da ERC. Como os jornalistas do CM eram os únicos homologados, perguntaram a Pedro Calado se ia assumir o compromisso por quatro anos “sempre à frente” do Funchal. 

Inicialmente Pedro Calado esboçou o seu sorriso número três, mas depois quando percebeu a pergunta ficou roxo e petrificado por longos minutos. José Luís Nunes apercebendo-se da morte prematura do candidato lançou-se sobre ele iniciando as manobras de reanimação neonatal com um desfibrilhador entre as pernas.