Elites de plástico, tigres de papel.



A s nossas elites são uma anedota. As pessoas muitas vezes deixam-se enganar pela ostentação, pelos carros de luxo ou pelas marcas das camisas. O que acontece muitas vezes é que o que está debaixo desses luxos são pedestres. Há famílias inteiras com piscinas e Porsches que não sabem onde fica Copenhaga, não sabem quem é Matisse e pensam que Chopin tocava violino.

Há casos até de elites que pensam que Mozart é uma marca de gelados para chupar. As nossas elites são uma piada, o seu brilho é de cobre, não de ouro. A sua cultura é de chumbo, não de platina.

O poder que têm baseia-se na crença injustificada de que a sua influência é merecida. Não é. Muitas vezes não passam de possidónios ricos e vulgares, provincianos e banais. Esta aristocracia madeirense é feita de plebeus sem raça, com prestígio de plástico. São tigres de papel. E o papel é barato. A sua nobreza vale pouco, é comprada. E quem compra estatuto social é ralé.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 1 de Setembro de 2020 11:33
Todos os elementos enviados pelo autor. Ilustração CM.

O filósofo das ruas estava se tornando mestre de um jovem da elite social. O jovem admirou o mendigo e o mendigo se encantou com o jovem. Começaram a ser amigos. Ambos viviam em mundos distintos, mas foram aproximados pela linguagem universal da sensibilidade e da arte de pensar. Uma fascinante história seria desenhada.

(O futuro da Humanidade. - Página: 29)
Augusto Cury


Além de permitir à elite se justificar de ser o que é, a ideologia do dom, chave do sistema escolar e do sistema social, contribui para encerrar os membros das classes desfavorecidas no destino que a sociedade lhes assinala, levando-os a perceberem como inaptidões naturais o que não é senão efeito de uma condição inferior, e persuadindo-os de que eles devem o seu destino social (cada vez mais ligado ao seu destino escolar) à sua natureza individual e à sua falta de dom.
Pierre Bourdieu