COVID-0



Graças a Deus, há muitos anjos anónimos,
os nunca lembrados e, sempre, rapidamente esquecidos.

COVID "ZERO mortos", sim mortos por COVID real, zero, mas pergunto: quantos morreram pelos seus efeitos colaterais? A quarentena e o confinamento obrigatório, quantos prejudicou, no sector da saúde?

Quantos negligenciou de forma passiva, doentes crónicos cujo prognóstico se agudizou e ditou o seu fim. Quantos doentes agudos em listas de espera ... agudizaram e se tornaram agora os "novos crónicos", listas velhas foram assim renovadas, refundadas aumentadas; o que se esperava de um SRS/RAM? Saúde? Castigou a sua clientela, as listas de espera de desespero passaram a desesperantes.

São aos milhares as consultas adiadas, hoje continuam a adiar a cardíacos e a muitos outros referenciados, com consultas marcadas há um ano mas, não há falta de vergonha de mandar o desgraçado do utente ao centro de saúde para novamente ser referenciado para uma consulta onde, cronicamente, já é seguido, ... dizem ser por causa do COVID.

A razão que justifica marasmo, desorganização e acima de tudo uma incapacidade doentia, quiçá veio a calhar para o SRS e o SESARAM, se adaptar ao COVID mas, foi incapaz de dar uma resposta continuada de normalidade, sem que os efeitos de negligência por abandono dos seus clientes e utentes viessem a acontecer de forma contínua e continuada. Respondeu bem ao COVID, só que encerrou a loja e desprezou o cliente habitual.

Se as listas de espera já eram um problema, agora são uma tragédia, mais um efeito colateral do COVID que poderia ter sido blindado por uma aposta na continuidade do sistema, mantendo a sua capacidade de resposta, com o COVID a ser tratado de forma lateral, paralela e fora do contexto hospitalar habitual. Quantos positivos com COVID foram internados no sector COVID do SESARAM e que encerrou as consultas externas 3 ou 4; então não haveria outra logística que minimizasse os efeitos colaterais do COVID pela paragem das actividades assistênciais de um hospital Central?

Sim, o COVID não matou, mas ajudou e continua a ajudar em processos de gestão hospitalar que potência a negligência passiva, e isto aconteceu com muito director de serviço em tele-trabalho, muitos que da gestão do seu serviço só têm conhecimento por terceiros, geralmente enfermeiros, que se mantiveram sempre de serviço, presentes e a resolver muitos problemas, de doentes, muitos crónicos, clientes habituais e que por isso ... a sua âncora. É com o enfermeiro de referência, os tais anónimos que aguentaram a dignidade de uma estrutura, que ainda se considera um hospital central porque, pela clientela, perderam toda a consideração e brio. A fidelização só acontece pela via do "monopólio", não existe outra a que se possa socorrer o cidadão desempregado, em layoff, com reformas de miséria ou carregando o peso de uma doença incapacitante.

Sim, o COVID não matou ninguém mas feriu de morte o SRS. O SESARAM paralisou e está hoje em estado catatónico. Faltam gestores clínicos intermédios de valor, com competência e mérito, os hospitais públicos não podem continuar a ser o terreiro de uma Medicina privada promiscua.

O COVID não matou, certo, mas muitos morreram ou podem ter morrido de boleia, ou com o seu contributo generoso. O COVID não mata, mas indirectamente matou muita coisa, inclusive fez da dignidade humana algo de execrável.

O SRS que ponha cá fora as suas estatísticas actualizadas, sem manipulações ou jogatinas. Continuamos com um serviço de saúde onde há muita jogada à custa do COVID. Prevenções médicas ao "kilo", o único serviço de saúde onde se faz prevenção dormindo em casa, ou prevenção em "simultâneo", "se está não se sabe onde". Em termos organizacionais estamos em desresponsabilização, ninguém quer saber de nada, o que interessa é engrossar o recibo do ordenado, e ... não se pense que se fala só da prevenção de médicos, outros também fazem da "prevenção" ... de mama e chucha graças ao COVID. Maus hábitos herdados e cimentados por décadas, graças a uma empresa que nada controla ou sequer quer controlar, basta ler elaborados relatórios do Tribunal de Contas: gastamos mais em cimento do que em material hospitalar. 

O COVID matou e contínua a matar em especial aquilo que não precisa de estar vivo, mata e enfraquece a organização e a sua capacidade de resposta, promove o desvario e o deixa andar …

Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 3 de Agosto de 2020 19:56
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