A "Beirute" da Madeira localiza-se no Caniçal



L i o "Lágrimas de Lacoste", se há uma marca com mais gabarito preparem-na. O meu raciocínio não é uma uma narrativa especulativa mas factual, é um assunto recorrente e é algo que me preocupa pois vivo no Caniçal. Tenho vista sobre esta aberração e vou sabendo das histórias sobre um produto perigoso num porto sem condições. Falo do gás natural. Não sou formado na matéria mas sou devorador de toda a informação acerca do assunto porque me preocupa.

O gás natural tem características únicas e não é muito estável, o transporte em cisterna contentorizada não é a melhor aposta mas é a que temos na Madeira depois de, tal como o ferry, a solução de navio cisterna a fazer trasfega por pontão foi eliminada da ribeira dos socorridos. Naturalmente para ser por contentor. A saber-se, o gás natural tem:

  • Poder calorífico superior a 9400kcal/m3;
  • Limite de inflamabilidade: 5-15% em volume;
  • Temperatura de ignição espontânea: 540ºC;
  • Velocidade de chama: 35 a 50 cm/s;
  • Temperatura de chama: 1.945ºC com ar e 2.810ºC com oxigénio;
  • Ponto de ebulição: -162°C;
  • Ponto de Fulgor: – 189°C;
  • Densidade absoluta: 0,766 kg/m3 (@ 20°C; 1 atma).

Um produto altamente explosivo e calorífico, não é por acaso a sua escolha para usinas. A recente explosão em Beirute, e as suas consequências, deveriam ser mais uma chamada de atenção às autoridades regionais sobre o que se passa no Porto do Caniçal. Mas não será, por razões que só a promiscuidade da política com negócios poderão decifrar e porque a senhora administradora da APRAM não deve ter qualquer noção sobre isto. Importa ir insistindo.

Relembrando, a opção da EEM em recusar a opção de navio cisterna para fornecimento de gás natural por pontão para a sua estação dos socorridos, que tinha sido estudada como a melhor, morreu em favorecimento do Grupo Sousa e o seu monopólio portuário que "decidiu" que a operação deveria ser feita apenas pelas suas cisternas contentorizadas, transportadas pelos seus navios porta contentores, entregues pelos seus camiões nas estradas regionais em horário diurno ... é coisa que dá calafrios a quem tem mais do que 2 neurónios, capaz de ver as condições em que todo este percurso e armazenagem é realizado. E, ao lado das instalações do gás natural nos socorridos descobriram um poço de combustível. Temos tido sorte.

Sem voltar a falar na questão de transporte terrestre pelo dia no meio do tráfego, queria focar na questão do armazenamento - curiosamente o que precipitou o resultado final da explosão em Beirute.

Estamos a falar no pior dos casos, por semana, de 16 cisternas com pelo menos 50 mil litros cada que são descarregadas e colocadas junto de outras tantas que em teoria estão vazias. Se as cisternas vazias são como as botijas de gás butano/propano a explodir, vazias e cheias são perigosas pela expansão do desastre. Só aqui, e nivelando por baixo, temos 800 mil litros de material altamente inflamável armazenado numas instalações que distam, sensivelmente, 400 metros das instalações da CLCM - armazenista de combustíveis com 22 reservatórios com capacidades que variam entre entre os 800 e os 8.000 m3, e que estão junto a percursos de empilhadores e gruas de manutenção duvidosa ao lado de um estaleiro naval. Em Beirute, a explosão no porto arrasou a cidade.

No passado chegaram a ter a brilhante ideia de armazenar as cisternas junto a um armazenamento de asfalto. Alguém achou que já era arriscar de mais e foram removidas mas, o gosto pelo risco mantém-se.

Estou certo que muitos irão dizer que os 5 ou 7 extintores junto ás cisternas e os inúmeros simulacros realizados à hora marcada e com conhecimento de tudo o que se irá passar pelos intervenientes, dá toda a segurança do mundo.

Esperemos apenas que um dia a Madeira não sofra, mais uma vez, uma desgraça em resultado da ganância de poucos para desgraça de muitos.

Obrigado pela oportunidade que me dão de publicar no Correio da Madeira, foi um prazer. Agora cada um que pense.

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 9 de Agosto de 2020 14:01
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