Violante Matos: Carta Pública a José Manuel Rodrigues



H á muitos anos que o senhor é deputado e, actualmente, preside ao primeiro e mais importante órgão de Governo próprio da Região. Quando tomou posse comprometeu-se. E desse compromisso retiro isto:

É meu compromisso aproximar os cidadãos do Parlamento e os eleitos dos eleitores, credibilizando a ação política e o sistema político regional.”

Isto escreveu o senhor.

Ficaram os seus actos reféns destas palavras? Deviam ter ficado, sim – é o que se espera de um compromisso. Mas não ficaram. O senhor chegou ao lugar que ocupa por um preço, por um compromisso: o de manter o PSD no poder. A partir daqui, está absolutamente refém.

Refém do PSD; que já o meteu na algibeira, a si e ao seu partido. Refém da cadeira que ocupa; que é demasiada para si. Refém dos seus actos; tornou-se uma ‘coisa pequena’, um capacho, um vendido.

O senhor deixou transformar esse Parlamento – que nunca foi lugar onde a política se pudesse exercer de forma nobre, onde a discussão pudesse ter lugar sem as arruaças e os insultos dos deputados da maioria – num verdadeiro lamaçal.


É o senhor que é o primeiro responsável pelo que está a passar-se.

É o senhor que tapa os ouvidos enquanto os deputados das bancadas da oposição são ofendidos e achincalhados.

É o senhor que considera que chamar mentiroso ou desonesto a alguém faz parte do debate político.

É o senhor que nega a defesa da honra a deputados que se consideram ofendidos – e não têm sido poucas as ofensas pessoais a deputadas e deputados da oposição.

É o senhor que se cala enquanto membros do governo ofendem e insultam. Não pode mandá-los calar, pois não? Lá se ia o lugar por que se vendeu.

É o senhor que, ainda hoje, durante a intervenção política de Paulo Cafofo deu mais uma vez mostras de quanto vale.

E para quem não saiba passo a explicar. Nem tudo quanto é dito na discussão no Parlamento fica gravado. Só o que é dito ao microfone, e a partir daí é que são feitas as actas. Os insultos, porque ditos de microfone fechado, não ficam. ‘Passam’! Ora hoje, ao ser insultado durante a sua intervenção, o deputado Paulo Cafôfo repetiu ao microfone o insulto e o nome do deputado do PSD que o insultou. E fez muito bem. Foi a única forma de ficar em acta.

E o senhor? O senhor que devia ter tido a dimensão ética de tomar uma medida e mandar calar o deputado do PSD, limitou-se a recomendar aos deputados que não entrassem em diálogo! Espantada? Nem por isso. Pouco me espantará vindo de si.

É o senhor que ouve um deputado chamar palhaço a outro, além de mais impropérios, e a única coisa que se limita a fazer é um apelo ao respeito e à boa educação.

É o senhor que se revela ao não interromper imediatamente o plenário, convocando uma conferência de líderes para pôr ordem nessa casa. Por muito menos, José Miguel Mendonça o fez.

Apressou-se a apadrinhar uma ‘revisão’ do regimento para que fosse violado o direito de cada deputado ao seu voto. Apresse-se agora a promover a penalização de deputados ordinários e mal criados que não respeitam essa casa, porque não respeitam a democracia, porque não respeitam nada.

É o senhor José Manuel Rodrigues que vai a correr para Belém e para S. Bento pedir mais autonomia, quando aquilo que alimenta é exactamente o ataque aos princípios da democracia e da autonomia. Está à espera de quê? Que o parlamento se transforme num ringue de pugilismo???

Verdadeiramente, sou obrigada a uma conclusão – o senhor não merece o lugar que ocupa. Porque não o respeita. Porque não o sabe honrar.

Violante Saramago Matos




Nota: as duas imagens foram coladas pelo CM.