10h da manhã, uma tasca da baixa da cidade, o cheiro a sandes de espada invade lentamente a zona de lazer, o barulho de chávenas de café a cair numa pia abafa o burburinho dos presentes,
Ação:
A – Então, já viste esta treta toda da corrupção? Já estava a demorar muito.
Um gesto sereno afaga a saqueta de açúcar branco e uma voz rouca responde,
B – Já se estava mesmo a ver, só não vê quem não quer e….
C – Isto é tudo santo aqui! Toda a gente mama….
B- Homem! é verdade, mas estes deram muito nas vistas..
A – Eram carros, casas, roupas e armados em campeões.
Os cafés chegam à mesa todos diferentes, mas em chávenas iguais
A – Há dias minha prima, que é amiga do motorista do ZZ tinha a sobrinha e a filha ai que não faziam nada, aquilo querem é roupas e andar ai nas internets, falou com ele já estão trabalhando no Hospital, é assim…
B – E lá em cima, tinha um poio que é de heranças, aquilo já anda assim desde que nasci, ninguém resolve, mataria e lixeirada lá dentro, o F e o D param os carros na rua, não têm garagem, eles trabalham ali no governo, falaram lá com um desses corruptos e pronto em três meses o governo mamou aquilo aos herdeiros fez um jardim e 12 estacionamentos para aquela malta, vais-me dizer que isto não dá nas vistas.
A – Sim mas paras lá o carro ou não….?
B – Homem paro, mas não está certo aquilo não era deles para fazer aquilo.
C – Vocês falam de barriga cheia, a política é assim e quem tem boca vai à Roma quem não tem…
A – Ah isso cá é, até nos arraiais e festas, as barracas é sempre para os mesmos mamar, seja que cor for na Camara, são sempre os mesmos, antigamente as barracas um gajo bebia um quarto litro de vinho seco, um dentinho de amendoim e uma perninha de frango não chegava a 2€…Agora.
B – Agora…..agora querem é ponchas a 4€ porque o vinho seco foi proibido que diz que deixa um gajo louco, não se pode deitar cascas de amendoim no chão que vem logo o barraqueiro dizer que é proibido e que suja, copos é um gajo que tem que andar sempre com o mesmo por causa do ambiente, é tudo um mamanço… os gajos até usam luvas para trabalhar, imagina, não havia a poncha de ser 4€.
C – Sim mas é mais seguro, há mais higiene, os produtos são de qualidade…
B – Conversa!!!!! É para um gajo se lixar a pagar e eles a mamar! E o zé povinho a pagar.
A – Eu imagino o que estes gajos não mamaram com estas construções todas por ai, aquele hospital, quando não é preciso nada daquilo, era só arranjar este e já estava, agora vai ser uma cagança, um gajo vai lá e paga uma fortuna para ver se tem febre, que é para estes gajos meter no bolso.
B – Sim isso eu concordo, estas empresas de construção envolvidas neste processo era tudo fechado e tudo preso… vão mamar para longe.
C – Boa ideia, assim fechavam-se essas empresas todas e construíamos um campo de refugiados na praça do povo para as pessoas que vão ficar no desemprego, e pelas minhas contas são mais que a população do Porto Santo.
A – Olha essa praça por exemplo, como é que se faz aquilo ali!?!?! Uma vergonha fazer obras numa praia tão bonita com aquele barco dos Beatles, em vez de tirar o aterro e devolver a praia às pessoas fizeram aquela porcaria ali que não serve para nada, imagino o que não se mamou naquela obra…para que, aquilo serve para que?
Na TV a notícia de última hora rasga o ambiente e ouve-se que todos os detidos vão ficar em prisão preventiva. Na mesa.
A – Finalmente. Agora sim vamos ver a justiça a funcionar, bandidos, vão ver o que é bom.
B – Se eles vão presos agora é que aquilo é mesmo grave, mas mesmo, na situação em que vivemos tinha de haver alguém a mamar assim… Uma pessoa não tem nada, anda a trabalhar que se farta, para pagar despesas, ter um carro, uma casa e ir ao Porto Santo no verão, para estes gajos andar aí à grande.
C – Trabalhas para o governo, se não estavas desempregado, tens carro se não andavas a pé, tens casa, se não moravas na rua, ainda vais de férias, vives numa ilha onde não te falta nada e estás chateado com negociatas que ninguém sabe sequer como é que aconteceram. Estás chateado porque também não fizeste as negociatas ou por eles terem feito? Se é por eles, não fiques porque eles neste momento estão pior que tu em parte por te terem dado qualquer coisa. Chama-se Política.
A – Bom, eles são brancos que se entendam, vou-me embora que ainda tenho de ir aos correios levantar as reformas dos meus sogros que sem isso não há pão lá em casa.
B – Ah eu também tenho de ir, daqui a bocado tenho a tonta da minha chefe à minha procura porque tem coisas urgentes para fazer e não me pagam para isto.
C – Amanhã depois encontramo-nos lá em cima para irmos nadar se não tiver cheio, se tiver vamos jogar à bola ali na praça do povo.
Fade to Black.
The End.
Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 31 de janeiro de 2024
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