Querida Marta Caires

 

Q uerida Marta, antes de mais deixe-me que lhe confesse que sou admiradora da sua escrita e sou leitora assídua de muitos dos seus textos. Temos sensivelmente a mesma idade, por isso revejo-me nas suas histórias de infância e muitas delas fazem-me sorrir como se fossem minhas.

Pensei duas e três vezes antes de escrever sobre o seu último artigo (link) que fala sobre ódio das redes sociais, por achar que não vem de si mas sim do ambiente social violento que nos envolve a todos, a si, a mim e a muitos outros anónimos a quem a vida foi madrasta.

Marta, no nosso tempo, o da TV a preto e branco, sobre o quão tão bem escreve, os jornalistas eram os únicos que podiam opinar porque simplesmente só eles tinham acesso aos meios, mesmo que limitados pelo regime político da altura. Do outro lado não havia discordância nem ódio porque simplesmente a tecnologia e a censura não o permitia. 

Lembra-se do primeiro dia em que comunicou pela internet? Eu sim, ainda me lembro do primeiro e-mail que enviei, nesse dia pensei que era dona do mundo.

Até esse dia os jornalistas eram os únicos donos da opinião e os cidadãos eram simplesmente os destinatários passivos. Hoje, qualquer cidadão anónimo tem a oportunidade de expressar sua indignação e isso tem tanto de bom como de mau. 

Marta, é preciso saber envelhecer e aceitar que o mundo continua igual, violento como sempre foi, só que hoje a velocidade e os tipos de fontes de informação deixaram de ser exclusivos dos jornalistas e cada um dos nós, que saiba minimamente escrever, falar, filmar e publicar o que lhe vai na alma pode faze-lo a partir de um simples telemóvel. 

Marta, hoje as guerras e as mortes são em direto e a cores mas o mundo não mudou, o que mudou foi o modo como a informação é difundida, crua e dura, sem parêntesis.

Hoje, os meus filhos e a minha netinha gozam de mim pela minha inépcia no telemóvel e por mais que lhes ofereça livros eles ficam na estante ao pó trocados pelo Instagram. É a vida!

Marta, o mundo mudou mas a sua foto no Diário continua a mesma de há 20 anos e isso é o que interessa.

Beijinhos

Enviado por Denúncia Anónima.
Segunda-feira, 27 de Junho de 2022
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