Turismo sustentável


O turismo é uma indústria com impactos significativos no meio ambiente e nas comunidades locais. Por esse motivo, é essencial adotar práticas sustentáveis para minimizar esses impactos negativos e potenciar um crescimento equilibrado. A sustentabilidade no turismo envolve a gestão responsável dos recursos naturais, a conservação da biodiversidade, a proteção do património cultural e a promoção do desenvolvimento socioeconómico equilibrado. Um turismo sustentável deve envolver a participação das comunidades locais, respeitando as suas tradições, cultura e direitos. Essa abordagem integrada garante a preservação do meio ambiente, conservação da vida selvagem e o bem-estar das comunidades envolvidas. Desafios como o excesso de turismo implicam soluções como a implementação de regulamentos e a promoção de hábitos de viagem responsáveis, o apoio às comunidades locais e a promoção de atitudes e comportamentos positivos a longo prazo em relação a práticas sustentáveis no turismo. (1)

O s galardões de turismo ganhos pela ilha não representam nada se não se mantiver a qualidade do destino conquistada e mantida dignamente ao longo de séculos. Se a reputação do destino for corrompida nem mil Associações de Promoção conseguirão salvar o perdido. Aí poderemos cantar a dor da saudade. 

A melhor e eficaz forma de promoção é a publicidade «boca a boca» um conceito genial, poderoso e acessível pois não custa nada. Esta forma de marketing funciona na plenitude pois é a mais credível e direcionável, pois os turistas confiam mais nas pessoas que conhecem e aceitam mais a recomendação destas do que confiam nas entidades promotoras que não conhecem e que sabem que têm interesse em publicitar. Esta estratégia é influente. 

Lentamente o turista tradicional que voltava todos os anos e fazia cá despesa, aquele que a Madeira sempre se habituou e foi a sustentação económica basilar de muitas famílias ao longo de séculos, está infelizmente a dar lugar a outro tipo de turista: o turista que faz o máximo possível sozinho com um orçamento reduzido, de mochila às costas. Este paradigma foi enfatizado no período pós-pandemia e potencializado com a ligação Ryanair na ilha.

O perfil de muitos turistas que nos visitam atualmente é aquele que nem tem dinheiro para o barato aerobus, e vem à boleia do aeroporto para o Funchal, fazendo férias com os escassos trocos à custa da hospitalidade dos locais. Em boa verdade o madeirense só sai de férias se acha que financeiramente pode fazê-lo, poupando para tal, e se não pode viajar ele resigna-se a ficar em casa. O madeirense não vai para o estrangeiro passear à custa da boa vontade de quem o ajudar no destino. Não precisamos deste turista, já temos cá pessoas remediadas e necessitadas. E cada vez mais surge a nostalgia pelo turista que era educado e respeitador, não como o atual que se embebeda, é mal-educado, dorme dentro do carro para não pagar estadia, acampa em zonas protegidas não autorizadas, toma banho nas wc públicas, deixa lixo nas veredas, cozinha na serra, lava a roupa nas levadas e tudo isto em troca de uns míseros euros pagos pela viagem quase oferecida pela Ryanair. 

Infelizmente está a ocorrer um fenómeno já previsto: algumas agências repetentes que compravam o destino Madeira anos a fio começam a abandonar a ilha devido à massificação do nosso destino e à suposta descida de qualidade. Dizem “o preço já não corresponde à qualidade”. O trabalho de séculos em elevar a imagem da ilha resume-se agora a um euro por estrangeiro? Onde pára a sustentabilidade do nosso turismo? Porquê esta «mudança de paradigma»? Não é melhor ter pouco e bom ao longo dos tempos do que muito de nada a comprometer o futuro? 

Mais grave é constatar que as massas não só comprometem o destino como também têm impacto sobre a qualidade de vida da população (excesso de carros a circular e consequente congestionamento das estradas, condução descuidada, desregramento e caos no estacionamento em determinados pontos turísticos – chegando a colocar em perigo a segurança rodoviária, poluição sonora, distúrbio das trotinetes na via pública e abandono destas nos passeios, filas enormes nos supermercados de nepaleses e “clientes Ryanair”, etc), sobre o ambiente (excesso de rent a car e poluição do ar, poluição da água, lixo deixado na via pública na cidade e na floresta) gastam recursos naturais e importados (água, eletricidade, gás, gasolina, gasóleo, produtos alimentares, etc), congestionamento no tratamento das ETAR e poluição da água. 

Há quem diga que se o turista deixar cá um só euro já é lucro! A Madeira não pode estar assim tão mal cotada ao ponto de degradar a sua imagem desta forma! Precisamos realmente deste turista?! As Canárias estão com melhor reputação que a nossa querida Madeira e Maiorca tenta já há anos recuperar a qualidade que perdeu graças a esta política de turismo de massas e low profile…que comprovou não compensar nem valer a pena. São precisos muitos anos para recuperar a boa imagem, se é que é recuperável. É grave o que está a acontecer. Quando acordarmos para a realidade será tarde, e a tradicional reputação de destino de qualidade será apenas uma saudade melancólica do que foi a Madeira no passado. Foi esse mesmo turismo de qualidade que ao longo de séculos nos sustentou a todos, um turismo bem estruturado, promissor e fiel, confiável…não será este turismo barato que nos assegurará ao longo dos tempos o nosso ganha-pão, porque só se virá à ilha se ela for digna de se ver e se ela continuar genuína.

O turismo deve ser repensado para durar de forma sustentável e a longo prazo tanto para si próprio como para a comunidade onde é vivido e que dele vive, pois trata-se de uma indústria muito sensível e suscetível a determinadas conjunturas. Ele deve ser estruturado a médio e a longo prazo de forma a garantir que as futuras gerações possam continuar a desfrutar dessa fonte de rendimento, e não deve comprometer o futuro com lucros fáceis e de massificação. 

Há que implementar regulamentos, promover hábitos responsáveis. Dever-se-ia banir as transportadoras low cost que introduzem os turistas pé descalço; limitar a proliferação escandalosa e preocupante de rent a car na ilha; multar os turistas infratores na hora e controlar as infrações; limitar o AL e dar oportunidade aos locais de arrendar casa na sua ilha-casa e acabar com a bolha imobiliária.

Os galardões de turismo ganhos pela ilha e os números de entradas não acrescentam absolutamente nada à população. A qualidade de vida da população sim, acrescenta e muito e é um direito de qualquer cidadão, rico ou pobre. 

Vamos deixar de pensar em extorquir da nossa querida ilha o máximo lucro possível em detrimento da qualidade de vida da maioria dos locais que vivem apenas do ordenado mínimo. 

Vamos deixar de vender e prostituir a nossa querida ilha visando apenas e unicamente os bolsos de alguns. 

Vamos deixar sobreviver a classe média que se extingue a olhos vistos e ganhar coragem para acabar com o galopante e crescente fosso entre os abastados e os remediados. 

Vamos deixar de olhar para o próprio umbigo e barriga e olhar para o futuro dos nossos jovens que já não conseguem alugar/comprar casa e estão cada vez mais a emigrar… e a dar lugar aos emigrantes que entram todos os dias na ilha e a ocupar apartamentos vivendo como sardinhas em lata…

Vamos acordar … antes que seja tarde.

1)  Artigo de Paulo Vaz, Director do Programa Sustentabilidade no Turismo, “Sustentabilidade e ESG no Turismo: Rumo a um Futuro Responsável” publicado na Porto Business School, 2 Agosto 2023.

Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 6 de maio de 2024
Todos os elementos enviados pelo autor.

Adere à nossa Página do Facebook (onde cai as publicações do site)
Adere ao nosso grupo do Facebook: Ocorrências CM
Segue o site do Correio da Madeira