Sempre que um homem sonha o mundo pula e avança


“Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança”

S e bem me lembro o poema Pedra Filosofal de António Gedeão, cantado por Manuel Freire em 1970, converteu-se no hino à liberdade e personificou a bandeira do grito pelo direito à expressão e extravasão de opinião.

Eu sonho para a Madeira:

… uma ilha que fale da sua originalidade e singularidade e não do que alguns querem que ela fale. Eu sonho com uma ilha que se vista da sua cor natural e com as suas vestes originais e não mascarada, desvirtualizada, prostituída e degradada pelos interesses individuais, pela ambição e especulação desenfreada e fabricada para aqueles que a visitam… recortada de gruas e solidificada pelo betão. Eu sonho com uma ilha que triunfe na preservação da sua beleza natural e a sua autenticidade, fundamento único pelo qual a ilha sempre se marcou pela diferença e se tem glorificado por séculos por um turismo sustentável, de longevidade e de qualidade.

Eu sonho com uma ilha de genuinidade pulsante e livre de adulterações mutiladoras, onde possam habitar com qualidade de vida aqueles que do seu ventre nasceram. 

O slogan imobiliário tão é voga “Madeira belongs to all“ é colossal inverdade e fere profundamente a suscetibilidade islenha! A ilha é primeiro ela dos Madeirenses, dos seus avós, bisavós e de todos os antepassados que talharam nela a pedra para fazer estradas, que rebentaram o basalto para construir tuneis, que transportaram toneladas de rocha às costas para traçar as levadas e ergueram muros em socalco para poder lavrar a terra, encharcada pelo suor do trabalho árduo. A ilha é também daqueles muitos que emigraram e trabalharam largos anos para poder finalmente regressar um dia à pátria e comprar um pedaço de terra e construir um lar para si e para os seus. No além-mar eles foram sobrevivendo somente à custa do seu árduo trabalho e a esses valentes desterrados nunca se lhes ofereceu casa ou apoio financeiro para lá vingarem… muitos até perderam a vida e os que voltaram à pátria foram guiados pela força da saudade portuguesa…A Madeira é mais que tudo deles, dos que morreram pela ilha-mãe, de todos aqueles que ela viu nascer e morrer no seu ventre e daqueles que nela continuam a labutar dia a dia e a pagar os seus impostos, por sinal os mais altos do país. Esta ilha fez-se do resultado do suor derramado de todos os heróis Madeirenses e é por isso que ela, de verdade, só a eles pertence. Ela não é de quem a está a comprar retalhada e às parcelas para viver, passar férias ou rentabilizar. Nem é de quem está a entrar nela e a receber subsídios sem nunca ter descontado ou ter contribuído para absolutamente nada. A ilha é de quem por ela viveu e lhe deu a vida… mas ela sabe disso. Ela não dorme, ela vê tudo, apenas está calada… ainda… Madeira doesn’t belong to all!

Eu sonho com uma ilha onde os filhos da sua terra tenham a oportunidade de nela viver, com a qualidade de vida merecida e que não tenham que emigrar para outras paragens, cedendo cada vez mais lugar aos “novos madeirenses”, aos ALs, aos nómadas digitais que deixam os seus impostos no estrangeiro… restando a população envelhecida e os imigrantes que entram todos os dias na ilha, sem parar, sobretudo da Venezuela, Nepal e África. Eu sonho com uma ilha onde no futuro a nossa identidade cultural, social e racial islenha consiga sobreviver ao novo paradigma deste mar de gente a fazer da ilha a sua nova residência. Sonho com uma ilha onde no futuro não hajam ghettos para albergar os madeirenses que se estão a tornar mais pobres e a crescente massa imigrante. Sonho com uma ilha onde as suas raízes culturais continuem agarradas à terra e onde as suas gentes continuem a viver as suas tradições e a respirar a sua genuidade. 

Sonho com uma ilha onde amanhã não seja necessário pagar para ver o mar, porque …sem ver a linha do horizonte o islenho morre… Eu sonho com uma ilha onde todos os seus filhos de nascença possam ainda alimentar a esperança de comprar ou alugar uma casinha e ter um cão e que não tenham de se remediar em bairros sociais, recuando para o interior e abdicando do litoral para os forasteiros. Eu sonho com uma ilha onde as crianças de hoje possam amanhã ter a oportunidade de alugar ou comprar um apartamento na cidade… assim como os seus avós o puderam fazer, ainda há bem pouco tempo. Direito puramente justo. Injusto é os filhos da terra terem de emigrar para serem substituídos pela horda de imigrantes que chegam todos os dias à ilha, sem parar. Deveras preocupante, Basta sair à rua para o ver. Basta ir aos supermercados e colocar-se nas intermináveis filas onde se pode verificar que a minoria é de cá.

Sonho com uma comunidade preocupada com o bem-estar dos madeirenses, firmada numa estrutura governamental empenhada em resolver e tentar descobrir o motivo do aflorar das depressões e do agravamento do consumo de drogas, sobretudo das sintéticas, as mais nocivas, baratas e destruidoras irreversíveis do cérebro. Sonho com a coragem de se mostrar e olhar para realidade nua e crua e deixar-se de a camuflar, pois só assim se a pode curar. Chega de Parecer, precisamos de Ser.

Sonho com uma ilha viva de cidadãos locais felizes e não preocupados com o futuro ou preocupados com as contas, fazendo cálculos e ginástica financeira para poder pagar as suas despesas básicas mensais com os seus escassos trocos… porque afinal existe muita pobreza na Madeira. Esta pobreza já não é escondida ou envergonhada… e os bairros sociais a custos controlados afinal já não serão apenas para a população de baixos recursos, serão também para os novos pobres das classes anteriormente intituladas de “médias”.

Sonho com um governo empenhado em debelar as doenças sociais e diligenciado em criar mecanismos de recuperação dos necessitados… e isto não só em véspera de eleição. Sonho com uma ilha onde a coragem de olhar nos olhos da numerosa população menos favorecida se sobreponha à ambição desmedida da especulação imobiliária e dos interesses particulares baseados no betão e no dinheiro virtual. Eu sonho com uma ilha onde o bem comum se sobreponha ao bem individual de apenas alguns, em detrimento da qualidade de vida de muitos… esses muitos que estão cada vez mais a constatar que as esperanças depositadas no seu voto na urna estão a sair goradas e a esmorecer de dia para dia. Para estes desejo muita coragem e clareza de espirito para finalmente dizer “basta”.

Para esta ilha amada por todos nela nascidos desejo muita saúde, paz e harmonia, muitos dias de primavera, prosperidade sócio-económica devidamente equilibrada e baseada no bem-estar da comunidade e sobretudo muito respeito pela ilha e suas gentes. E como o sonho comanda a vida, vamos sonhar e acreditar que não há bem que sempre dure nem mal que sempre ature, pois assim é a vida: uma metamorfose constante, tal como as estações do ano, como o amanhecer após a noite...

E tudo na vida é uma bênção ou uma lição, mas nada é para sempre, só o amor é eterno e é para sempre... O amor desta gente por esta ilha, porque a ilha e suas gentes são uma realidade indissociável. 

E bastou um cravo para fazer a diferença entre o antes e o depois…

“Eles não sabem nem sonham
Que o sonho comanda a vida
E que sempre que um homem sonha
O mundo pula e avança
Como bola colorida
Entre as mãos de uma criança”


Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 8 de maio de 2024
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