As Manuelas desta Cidade


E sta é uma história igual a tantas outras mas que ainda assim vale a pena ser contada. Era uma vez ... Na encantadora cidade do Funchal vivia a Manuela, uma mulher trabalhadora e alegre que nunca conheceu outro lugar que pudesse chamar de lar. A sua casa era pequena e modesta mas ficava perto da praia, onde silenciosamente se passavam as noites, se cuidavam dos jardins ou simplesmente se apreciavam as vistas para o mar. Aqui se viviam os dias, nesta maravilhosa ilha, (outrora) verde e azul conhecida lá fora como a pérola do atlântico, claro, tão preciosa que todos a quiseram (vender) vir ver. À medida que o turismo na ilha crescia, a vida de Manuela começava a mudar. Os turistas aos montes inundaram as ruas, os jardins, os supermercados, os restaurantes e as praias. A cidade outrora calma foi-se transformando num paraíso turístico movimentado, e enquanto tudo isso acontecia, os preços das casas disparavam, impulsionados pela crescente cobiça por acomodação temporária.

Um dia, a Manuela recebeu aquela notificação que muitos de nós receiam receber, a de despejo. O seu pequeno pedacinho de paraíso quase à beira do mar foi comprado por um investidor estrangeiro que planeou construir uma casa com piscina para mais tarde arrendar a preços proibitivos (e sem passar recibo). Tal como muitos outros residentes locais, a Manuela viu-se sem opções viáveis. Colocou anúncios desesperados no Facebook que só recolheram emojis sorridentes e frases do género “...também eu queria”. Como não tinha recursos para competir com o mercado imobiliário inflacionado e se dar ao luxo de arrendar outra casa na cidade, viu repentinamente sem um teto e sem ter para onde ir (sim, a Manuela foi a IHM e à Segurança Social ... Enfim.) passou noites em branco e dias a vaguear pelos anúncios fraudulentos, mas sem sucesso.

Apesar de todo o seu esforço viu-se presa num ciclo desesperante, onde o stresse, a ansiedade e a incerteza do futuro pesaram sobre ela (bem podia ter tido um ataque cardíaco) enquanto lutava para sobreviver numa cidade onde o turismo que noutros tempos trouxera vitalidade agora deixava-a sem casa e sem esperança. Ainda bem que pôde contar com a solidariedade dos amigos que unidos na luta contra as forças do desenvolvimento desenfreado lhe ofereceram um abrigo temporário e palavras de encorajamento. Assim, enquanto o sol se põe diariamente sobre as águas azuis do nosso oceano, a Manuela mantém viva a esperança de um futuro onde todos (independentemente do status ou do cargo político), encontrem um lugar digno que possam chamar de lar.

As Manuelas desta cidade e todos os seus amigos têm a oportunidade de votar no dia 26 de Maio.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 30 de abril de 2024
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