O meu amigo Miguel


E sta história é verídica mas os nomes, datas e locais foram alterados de modo a proteger-me legalmente. Sou funcionário público e trabalhava perto da Rua do Bom Jesus. Desde 2022 que estou reformado e vivo feliz com os guerrilhas dos meus dois netos, são aquilo que é mais importante para mim. A nível político já votei no PSD, no CDS, no PND e nas últimas eleições abstive-me, ou seja, sou um madeirense igual a tantos outros.

A história que venho contar – e da qual já me arrependi - tem alguma piada precisamente porque permitiu-me, durante os últimos quatro anos, conhecer melhor as pessoas que me rodeiam. 

Não é novidade nenhuma que na função pública conversa-se mais do que se trabalha e, há 5 anos atrás, cansado do autoritarismo de um Assessor intragável e incompetente, pedi a mobilidade por conveniência achando que o novo projeto proposto seria muito mais interessante. A adaptação às novas funções foi fácil e integrei-me perfeitamente na nova equipa, da qual nada tenho a apontar a nível profissional.

A minha história começou numa simples conversa de café com alguns colegas da mesma Secretaria. Por algo que já não me lembro, o nome de Miguel Albuquerque veio para o meio da conversa. Como estava muito divertido com a conversa fiz um ar sério e confessei que já conhecia pessoalmente o Miguel Albuquerque, do tempo da JSD, contando alguns episódios das loucuras da altura. A atenção dos presentes centrou-se na minha conversa e continuei que o Miguel e a família costumavam frequentar a minha casa. Até referi que a Sofia e os filhos eram pessoas simples e espetaculares. Muito divertido, até contei o episódio em que num churrasco na minha casa de São Vicente tive de o levar a casa porque ele apanhou um "bedeirão" de GIN, tanto que não se aguentava em pé.

Voltamos depois ao trabalho, o tempo passou comigo concentrado no novo projeto. De início não percebi nada, mas aos poucos notei que fui ficando importante aos olhos dos outros e por isso mantive as histórias do meu amigo Miguel. Não demorou muito tempo para me convidarem para o café para me fazerem conversas políticas restritas, perguntando sempre pela minha opinião. Não sei como mas a minha história de amizade com o Miguel propagou-se e não demorou muito para que toda a Secretaria ficasse a saber que eu era um amigo chegado do Miguel.

A história tomou contornos incontroláveis, até que um dia um dos colegas me perguntou porque é que eu não tinha um cargo de chefia, ao que respondi que o Miguel já me tinha sido proposto mas que eu tinha recusado, por achar que isso seria injusto e imoral. 

Foram tempos divertidos ao ponto do Diretor Regional confidenciar-me se podia resolver algumas dificuldades que ele tinha com o Secretário Regional da Tutela. A piada é que mesmo sem eu fazer nada, o assunto resolveu-se e ganhei mais uns pontos à custa do Miguel.

Um belo dia e quando tudo parecia correr bem, uma das funcionárias da limpeza pediu para falar comigo a sós. A funcionária explicou-me então que tinha uma filha com o 12º ano que andava à procura de um emprego melhor e se eu podia dar um jeito com o senhor presidente. Naquele dia, perante o desespero da senhora, a história que eu tinha inventado para me divertir ruiu na minha consciência.

O que a senhora nunca poderia saber é que na verdade nunca falei pessoalmente com o Miguel Albuquerque nem que ele nunca foi meu amigo. A ela as minhas sinceras desculpas por a ter iludido, aos outros todos não devo nada porque descobri que se movem apenas por interesses. 

Aprendi com os erros, mas de certeza que não fui o único a inventar esta amizade. 

Enviado por Denúncia Anónima.
Quinta feira, 27 de Abril de 2023
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