O 4º Poder



T olentino Nobrega, que Deus o tenha, deve estar a se remexer no seu parco túmulo. Para quem não sabe, o jornalista Tolentino Nóbrega vai ficar para História por ser o único Jornalista madeirense que teve a "honra" de ser visado com duas tentativas de atentados da FLAMA apenas por ser alguém incómodo aos interesses do Regime. E andam aí alguns a falar em coragem e cobardia! Tenham juízo!

Os anos passaram e a FLAMA passou à história. Hoje, e por motivações diferentes, sou um leitor assíduo dos dois jornais que ainda se publicam na Região. Um deles dá-me vontade de rir, o outro, ainda não. Mas ultimamente algo estranho está a acontecer, porque desde de há umas semanas que, quando estou a ler uma notícia, um artigo ou uma opinião, vou verificar qual dos jornais é o que estou a ler porque já se confundem.

Já todos nos apercebemos que existe um problema de sobrevivência na maioria dos jornais em Portugal, sejam eles em papel ou em suporte eletrónico. É fácil de concluir que as estruturas empresariais dos jornais não conseguem sobreviver sem o financiamento do Estado e do suporte publicitário das empresas. E se o cenário em Portugal já era mau, o COVID veio agravar a dependência de um mercado caro e demasiado pequeno como o da Madeira.

Sejamos claros! A atitude mais correta e racional é fundir ou mesmo fechar as empresas e enviar para o desemprego centenas de profissionais, a outra alternativa é encontrar investidores que partilhem os prejuízos.

O problema nisto tudo é que nenhum empresário, por mais louco que seja, vai investir num negócio que sabe que não é viável, se não tiver garantias de que o poder político vai suportar a exequibilidade do jornal pela porta do cavalo. Para quem ainda não percebeu nada, a sorte de alguns jornalistas é que os regimes políticos precisam de publicitar o bom que fazem e esconder o mau, daí o apetite desmedido pelo controlo total dos Media.

E sem rir, o mais estranho nisto tudo é que a ERC e o Sindicato dos Jornalistas assobiam para o lado quando está em causa o maior atentado à liberdade de Imprensa na Madeira. Um governo que pode apoiar directamente e ser fiscalizado envia empresários do regime e entrega-lhes o dinheiro ...
Mas se tudo o que acima se escreveu pareça ser a solução para a garantia de emprego na imprensa escrita, pode afinal ser uma faca de dois gumes. E porquê?

O problema é que os jornais podem escrever o que o Governo quiser mas o mais importante é que tenham leitores que o leiam. Quem vai publicitar em jornais que ninguém lê? O Governo? E para quê, se ninguém quer ler as coisas boas? E agora, que se controla os Jornais e a Televisão, para quê pagar a Assessores de Imprensa, se as noticias vão ser sempre as mesmas? Quem vai ler a mesma porcaria? Ainda não perceberam que as notícias para serem notícias têm de ter leitores?

E se tudo isto já não fosse mau para os jornalistas, as redes sociais ensinaram-nos que os leitores querem escândalos, mortes, sangue, justiça e acima de tudo políticos presos! Querem lá saber se o Miguel Albuquerque montou um Hospital novo em três dias por três milhões.

Longe destes problemas de sobrevivência estão os Blogues, como o politicamente incorreto Correio da Madeira, que ainda não é controlável pelo poder, e que mesmo que um dia seja, nada impede que apareça outro Blogue ainda pior ou mais radical. 

Será mesmo o fim do 4º poder, ou o início de algo novo?

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 30 de Agosto de 2020 10:58
Todos os elementos enviados pelo autor. Ilustração CM.