Picar o ponto/Picar o pinto... ou a história de um melro preto nas Selvagens


D o mesmo modo que num jogo de futebol a crítica ao desempenho dos jogadores é, muitas vezes, confundida com a crítica ao jogador, também na política a crítica aos políticos nada tem a ver com a pessoa dos mesmos, apenas com as suas (boas ou más) atitudes e comportamentos.

O Correio da Madeira tem um papel difícil nessa avaliação (e agradeço o esforço realizado nessa triagem; um outro olhar, com mais frieza, é sempre importante), em especial numa ilha em que, fruto de 48 anos de quase total impunidade (os casos judiciais têm sido maioritariamente arquivados, ou seja, nem a julgamento vão: lembremo-nos da operação «milho frito»), a baixa tolerância visível em muitos escritos (incluindo alguns próprios, de que me penitencio) é o resultado de um profundo cansaço acumulado de quem está sempre a ver que «o crime compensa».

Não há qualquer tentativa de instrumentalizar esta plataforma de comentário. Para essa função já bastam os 'técnicos especialistas principais' (#MarsílioForever) que um dia foram jornalistas.

Os hipotéticos impropérios aos protagonistas (seja no futebol, árbitros e jogadores, seja na política) são manifestações reactivas de desagrado ou gritos de alerta por parte de quem se vê impotente para mudar uma realidade injusta, que a todos acabará por prejudicar (mesmo aos que dela beneficiaram directamente) e, por outro lado, não encontra alternativa em termos de mudanças credíveis neste sistema armadilhado de uma 'partidocracia' disfarçada de democracia.

Daí que, nesta ténue fronteira analítica, surja um paradoxo: como ofender (e defender) a honra de quem (manifestamente, com os seus gestos e atitudes, actos e omissões) já a perdeu? Quem souber que faça o favor de responder.

Os políticos (com todas as mordomias e contrapartidas à sua exposição pública, algumas delas que só conheceremos mais tarde, como a do sócio oculto do Savoy residente no Quebra Costas), a partir do momento em que deixam de ter o benefício da dúvida e a certeza da sua falta de honorabilidade, não podem ser protegidos (já o são pela 'justiça dos ricos') nem imunes, ao menos, à sátira sobre a sua personagem pública, que, volto a dizer, não se confunde com a própria pessoa em si.

Por exemplo, chamar "celestial sonso" a José Manuel Rodrigues é um retrato satírico que, sem pretender ofender a pessoa, descreve a sua dupla-conduta de enganar o eleitorado (com falsas promessas eleitorais) e de agarrar-se às saias dos bispos e da Igreja.

Quem satirizou a secretária do ambiente como "melro preto", descreveu os voos (políticos, desde o Instituto de Habitação da Madeira) desta personagem política (e a respectiva "porcaria" que deixou por onde passou, até chegar às Selvagens) com o seu 'fetiche' de se vestir de negro (como lê o Correio da Madeira parece que já anda mais colorida... mas acredite que o preto é o mal menor).

Quem chamou "petit Salazar" a uma personagem bem conhecida cá da terra, pretendeu identificar e colar tiques ditatoriais com a estatura da personagem. Aí já haverá uma fronteira muito ténue nessa sátira, uma vez que envolve características físicas do sujeito, mas que podem ser diluídas se considerarmos um dito segundo o qual «os homens pequenos ou de baixa estatura quando se agarram ao poder tornam-se os mais perigosos».

Feita esta introdução, escrevo a propósito do noticiário das 10h00 deste sábado, na Antena 1 Madeira (solicito ao Correio da Madeira o favor de 'capturar' essa gravação antes que desapareça dos arquivos), onde ouvi Rafaela Fernandes justificar (?)  a captura do gaiado para «fins científicos».

Nota CM 13-7-2024 13:21: autor, não carregam desde 7-7-2024 link

Quais foram os fins científicos em questão que justificassem tal captura? É uma resposta ainda por dar, nem nenhum jornalista perguntou (muito menos a oposição). Que fim será dado ao gaiado capturado? A custo zero para os restaurantes? Do mesmo modo que a destruição das rochas em Câmara de Lobos servem para matéria prima sem custos para a AFAVIA e seus parceiros de gang?

Ainda ouvi nessa notícia que tal «expedição às selvagens com fins científicos» foi autorizada pelo Instituto das Florestas e Conservação da Natureza. Como se esta entidade, dirigida pelo presidente da Junta e São Pedro, Manuel Filipe (um dos 'homens' de Jaime Filipe Ramos) fosse independente; o que não verdade, visto que, orgânica e hierarquicamente, depende da secretaria regional dirigida por... Rafaela Fernandes.

Rafaela Fernandes é (mais) um dos casos sinistros de ascensão política por via das jotinhas partidárias, sem experiência de vida laboral (como trabalhadora dependente) ou empresarial (nem como empreendedora), e cujo mérito foi o de "picar o pinto", perdão, o ponto nas famosas universidades de verão da JSD, na zona norte da nossa ilha, onde se 'aproximou' ao respectivo presidente, Jaime Filipe Ramos (o tal que, mediante alteração de estatutos, continuou presidente dos jotinhas mesmo depois de ter atingido o limite de idade).

Esta senhora andou de poleiro em poleiro, sendo deputada regional na quota que o partido destinava à JSD. Funcionários do antigo Instituto de Habitação da Madeira (hoje Investimentos Habitacionais da Madeira, S.A., pois a tabela salarial dos dirigentes/administradores é superior à dos que compõem o conselho directivo dos Institutos Públicos...), do SESARAM e da própria Secretaria Regional do Ambiente poderão vir acrescentar mais testemunhos ao tipo de desempenho e qualidade (?) de serviço prestado à causa pública; para lá das respectivas polémicas protagonizadas e publicamente conhecidas. 

A ironia desta "expedição científica" às Selvagens (eufemismo para a 'carta branca', no caso laranja, dada `à futura chacina de gaiado, com o visto verde do PAN...) é-nos dada pela memória histórica sobre a Secretaria do Ambiente, então dirigida por Manuel António Correia (o 'D. Sebastião laranja'), nos anos 90. Pois que as ilhas Selvagens foram objecto de uma candidatura à UNESCO para património natural da Humanidade. 

Do resultado dessa candidatura não tenho memória. Mas se a mesma tivesse sido aprovada (houvesse juristas de reconhecido mérito que tivessem instruído o processo com competência...) concerteza que esta 'palhaçada científica' jamais teria sido autorizada (a UNESCO não é um mero Instituto político disfarçado de cientificidade e do qual se pretende propagandear uma falsa independência), ou, sequer, equacionada. 

A memória que tenho desse tempo é que havia uma grande faixa, disposta de cima a baixo do Edifício Golden (onde funcionavam e funcionam os serviços da secretaria do Ambiente), a divulgar (publicidade enganosa) as Selvagens como património da UNESCO, assim como alguns carros oficiais dessa secretaria que circulavam pela cidade com tal promoção. Ou seja, gastaram dinheiro antes do tempo com algo que... não aconteceu. 

Nem ninguém se responsabilizou pelo dinheiro dos contribuintes deitado ao lixo.  

É este o tipo de gestão directa que se pretende para os nossos mares e a que se referia Rubina Leal no seu 'vigoroso' (seriam inputs... do novo historiador 'oficial' do regime, Paulo Miguel Rodrigues, por várias vezes citado?) discurso do dia 1 de Julho?

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 13 de julho de 2024
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