Onde há fumo, há fogo.


T enho ataques de pânico quando me debruço com informação científica do género de "buracos negros que engolem corpos celestes" e de que um dia "o nosso sol vai crescer até engolir a terra", e mesmo quando nos debruçamos com questões mais filosóficas tais como de onde vimos, para onde vamos, os efeitos do tempo pelos planetas, estrelas, galáxias, o que será da humanidade daqui a 1 milhão de anos, enfim, esse tipo de assuntos. Não se pergunte porquê, mas dá-me pânico pensar nisso.

São assuntos que o Homem investiga há uma fração da sua existência, mas conta com tantas informações precisas, teorias, estudos, conquistas, e consegue medir alguns parâmetros relacionados com a idade do universo ou prever o movimento das galáxias ou até procurar vida onde ela conjuga mais elementos viáveis à sua existência.

Já o perdi? Vamos lá.

Este artigo não é sobre política. 

47 anos de poder social democrata parecem uma eternidade, e até é intergeracional porque, tal como os millennials habituaram-se a tomar o nosso Cristiano como o epítome do futebol, habituaram-se também a ver o laranja como símbolo de poder regional, tal como o leite é branco e a manteiga é amarela. O pensamento crítico para com um pacote de manteiga é ZERO. É amarelo. É branco. É laranja. Ponto.

Veem o problema?

Este artigo não é sobre política. 

Quando abordo o meu avô, homem experimentado da vida, com seus hábitos quase seculares, sei de antemão que dificilmente o demoverei com teorias sobre a cultura da batata ou a pimpinela que dá bicho. Deite-se enxofre, um dente de alho, bota cinza em cima, são aqueles remédios "santos" que sempre encontram algum sucesso nas suas lides diárias. Mas quando venho falar em governo e políticas, esqueça, não tenho hipótese. "O que é pra mim basta: tenho as minhas semilhas, as minhas cabrinhas e o vinho nas pipas", esquecendo-se sempre que a sua pensão já não dá para a maioria das coisas, entre medicamentos e supermercado.

De vez em quando lá vem a Junta promover uma excursão, um passeio de barco...

De vez em quando lá vem a Casa do Povo dar remédio de ratos e formações disto e daquilo com uma macarronada no fim...

De vez em quando lá vem o arraial da Paróquia e mais espetada bem regada...

O meu avô é um homem sério, vive a vida no máximo das suas possibilidades, mas não tem pachorra para "cantigas".

De tempos a tempos, vem um "carrinho" à sua casa para ir buscá-lo a fazer uma cruzinha...

Sou adulto, sou millennial, trabalhador, pai de família. Sou informado, sou madeirense, fui bolseiro na faculdade, inclusive recebi apoio do Governo Regional e até da fundação Berardo (para os que tinham mais de 14 de média). Tenho as minhas convicções políticas, sociais e religiosas. Vivo diariamente sufocado entre:

  • a prestação da casa;
  • produtos alimentares;
  • restaurantes com preços à moda da Suíça;
  • Trânsito caótico;
  • prestação da casa;
  • Mais trânsito, desta vez só com Fiat Panda, Clios, Seats e todos os carros das Rent-a-car (que agora parece a caça ao ouro no velho faroeste - vale tudo e ninguém faz nada)
  • já não vou ao Pico do Areeiro há meses - pra quê? Para ver carros e estrangeiros?

Sinto que estou preso numa ilha. O que ganho não dá para sair. Estou refém das contas para pagar. Tento ser feliz nas coisas pequeninas, mas hoje em dia ser feliz num prédio de 8 andares com animais a uivar à noite, música alta de um AL, o aspirador da vizinha às 8h da manhã... tenho medo de alturas, mas estou a ganhar cada vez mais confiança...

Este artigo não é sobre política. 

Esta noite será de lua azul. E por muito que goste do azul, não acho que a noite tenha de ser pra sempre azul. Porque a beleza da humanidade está na diversidade e não na persistência de dogmas, ideologias, teorias, convicções.

Porque até o leite pode ser de aveia, e deixa de ser branco, ou mudamos para café.

Porque até podemos deixar de usar manteiga amarela para usar um queijo mais branco ou até doce de amora.

Porque uma região pode deixar de respirar laranja para poder ser a cor que quiser.

47 anos a beber leite.
47 anos a usar manteiga.
47 anos a "comer" laranja.

Já minha avó dizia: "tudo o que é demais não presta".

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 30 de agosto de 2023
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