H á uma ironia de proporções épicas a desenrolar-se na Universidade da Madeira (UMa). Após quase 40 anos de existência, finalmente temos um reitor nascido e criado no arquipélago. Poderia parecer o momento histórico em que a universidade se reconcilia com as raízes locais, numa onda de identidade e autonomia regional. Mas o que este reitor nativo parece realmente trazer é uma missão peculiar: o encerramento, quem sabe definitivo, da própria universidade.
Ora, isto diz muito sobre a tal "colonização" levada a cabo pelos reitores anteriores, esses forasteiros que vieram à ilha, qual navegadores com a missão de explorar e instalar aqui o "progresso". Durante décadas, trouxeram agendas académicas que, mesmo às vezes sem qualquer ligação com a realidade madeirense, deixaram a sua marca. E, de certa forma, a universidade foi crescendo, nem sempre à medida das necessidades regionais, mas crescendo. A questão é que, no fim de contas, esse “progresso” serviu mais como um império de vaidades do que como um centro de investigação útil para a região. Talvez esperassem que o reitor madeirense viesse a corrigir o curso, a restabelecer a ligação entre a UMa e a comunidade.
Mas eis a surpresa: este reitor, com toda a sua identidade regional, parece determinado em fechar o capítulo da Universidade da Madeira com chave de ouro... e cadeado. Em vez de investir em competência e mérito, áreas de interesse para a ilha, requalificar programas ou estabelecer parcerias estratégicas, a gestão atual parece mais interessada em arranjar um bonito epitáfio para o ensino superior madeirense.
Olhando para este fim anunciado, percebe-se que o trabalho dos antigos “colonizadores” não foi lá muito eficaz. Confiaram tanto na ideia de que eram insubstituíveis que, ao sair, deixaram um edifício tão frágil que a primeira brisa autêntica da ilha ameaça derrubá-lo. Para uma universidade que deveria servir de plataforma para o desenvolvimento regional, é irónico que, no final, tenha se transformado numa espécie de ilha académica perdida no Atlântico.
Assim, os antigos reitores deixam como legado uma universidade que parece incapaz de se sustentar sem as suas “orientações”. E o reitor da terra, em vez de aproveitar essa herança para transformar a UMa num pólo de saber relevante para a Madeira, parece decidido a encerrar a última página, numa espécie de final digno de tragédia grega, em que o filho da terra é quem apaga a última vela da academia insular.
Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 9 de Novembro de 2024
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