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A s Ilhas Selvagens, um dos tesouros naturais mais emblemáticos do arquipélago da Madeira, enfrentam agora um dilema que desafia a preservação do seu ecossistema único. Recentemente, a decisão do governo do PSD da Madeira de permitir atividades de pesca nesta zona em concluio com o partido Chega regional, levantou preocupações profundas entre cientistas, ambientalistas e a sociedade civil. Esta medida, associada a um investimento de seis milhões de euros concedidos à ARDITI (Agência Regional para o Desenvolvimento da Investigação, Tecnologia e Inovação) pelo governo regional da Madeira para estudos científicos do Mar, suscita questões fundamentais: qual é, afinal, a posição da ARDITI sobre esta política? E como pode uma prática potencialmente prejudicial coexistir com a missão de conservação ambiental?
Num artigo publicado no jornal Público, (link do artigo) uma equipa de cientistas portugueses alertou para os riscos que a pesca representa para as Ilhas Selvagens, que se destacam pela sua biodiversidade sensível e pela presença de espécies endémicas e protegidas. A prática de pesca, mesmo que regulamentada, tem o potencial de causar danos irreversíveis ao equilíbrio ecológico da região, colocando em perigo habitats marinhos frágeis e alterando cadeias alimentares cuidadosamente estabelecidas ao longo de milénios. Num momento em que a sustentabilidade é um imperativo global, como justificar a exploração de uma área que deveria ser um santuário natural?
A ARDITI, enquanto instituição de investigação científica regional, tem agora uma responsabilidade acrescida. Com um financiamento tão significativo destinado à investigação, seria de esperar que assumisse uma posição clara sobre o impacto da pesca na preservação dos ecossistemas locais. Poderá a ARDITI conciliar o seu papel como promotora da ciência e da conservação com a permissividade de políticas que potencialmente comprometem a integridade ambiental da região?
O dilema reflete um paradoxo mais amplo. Se o investimento científico é destinado a compreender e proteger a biodiversidade, como pode ser aceitável permitir atividades que, à partida, podem minar esses objetivos? A voz da comunidade científica deve, mais do que nunca, ser ouvida neste debate. Cabe à ARDITI, enquanto guardiã do conhecimento e das boas práticas científicas, assumir uma posição ética e baseada em evidências. Um silêncio ou uma postura ambígua poderão ser interpretados como conivência com políticas insustentáveis.
A pesca nas Ilhas Selvagens não é apenas uma questão local; é um teste à nossa capacidade de priorizar a proteção ambiental em detrimento de interesses imediatistas. A ciência e as instituições que a promovem têm o dever de liderar pelo exemplo, colocando o bem comum – neste caso, o equilíbrio ecológico – acima de qualquer outra consideração. Será a ARDITI capaz de se posicionar de forma firme e inequívoca em defesa deste santuário natural, alinhando-se com as preocupações já expressas pela comunidade científica portuguesa?
O futuro das Ilhas Selvagens depende, em grande parte, das escolhas que fizermos hoje. Entre a exploração e a conservação, qual será o caminho que escolheremos trilhar?
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 28 de Novembro de 2024
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