A arquitectura da Madeira: entre o luxo panorâmico e a prisão estilizada

 


Depois do Dubai, o 33 do Thomas Street em Manhattan

N a ilha da Madeira, onde cada palmeira parece ter sido estrategicamente plantada para embelezar o Instagram dos turistas, a arquitectura está a viver um drama digno de uma telenovela. De um lado, temos prédios luxuosos na Estrada Monumental, com varandas tão grandes que se pode praticar yoga ao nascer do sol, e janelas de vidro que parecem saídas de uma capa da Architectural Digest. Do outro lado, temos… bem, o "monumento" da rotunda da Leroy Merlin, construído pela famosa empresa Classe Concreto, que decidiu reinterpretar o conceito de edifício residencial como se fosse um projeto-piloto para uma prisão futurista.

A Estrada Monumental é o exemplo perfeito de como combinar o amor madeirense pelo mar com a ambição de impressionar os vizinhos. Os edifícios que lá surgem são verdadeiros "templos à vista panorâmica", porque, sejamos sinceros, quem quer viver na Madeira sem uma janela gigante que grita: "Olha para mim, sou rico e vejo o mar enquanto como papaias!"

Aqui, cada varanda parece competir para ver quem consegue ter mais metros quadrados, mais sofás de exterior e mais plantas que não sobrevivem à primeira ventania. Não importa que o preço de um apartamento custe mais do que três anos de rendimento médio na ilha. É luxo ou nada. A estética está acima de tudo, até da funcionalidade.

E, do outro lado da moeda, temos o prédio da Classe Concreto, (...) que parece ter sido desenhado num software de arquitectura dos anos 90, quando o conceito de "estética" ainda não tinha sido atualizado. Lá está ele, na rotunda da Leroy Merlin, como uma espécie de declaração audaciosa: “Quem precisa de janelas?!”.

O edifício, com a sua fachada austera e quase sem aberturas para a luz natural, parece uma prisão para seres humanos ou talvez uma instalação experimental onde tentam recriar as condições de vida em Marte. A pergunta que todos fazem é: "Será que os Ramos da Madeira sabem que as pessoas gostam de ver o sol?" Ou será que a empresa só tinha um excedente de cimento e decidiu fazer algo… horrorosamente inovador?

Na Estrada Monumental, os arquitetos estão claramente inspirados por uma visão utópica: criar edifícios que quase flutuam no mar e onde as persianas automáticas respondem ao humor do proprietário. Na Leroy Merlin, a inspiração parece ter vindo de um manual de engenharia soviética: criar algo prático, frio e indestrutível. É o que acontece quando se constrói com classe... de cimento.

A questão é: como é que um prédio destes foi autorizado numa ilha tão bonita? Talvez o argumento fosse algo como: “A nossa prioridade é proteger os moradores do vento e da vista.”

Enquanto alguns dos prédios da Monumental se esforçam por integrar a paisagem (ou, pelo menos, por refletí-la nas janelas de vidro intermináveis), o prédio da Leroy Merlin parece uma mensagem subliminar para turistas cansados: “Aproveitem bem a estadia, porque, se não forem embora, podem acabar aqui.”

Na Madeira, a dualidade é real: por um lado, o luxo que brilha e atrai, por outro, o cimento que abafa e confunde. Será este contraste uma crítica subtil à condição humana? Ou será apenas o resultado de deixar os Ramos da Madeira brincar com betoneiras sem supervisão artística? Enquanto isso, os madeirenses observam com um misto de fascínio e resignação. Porque, na verdade, a Madeira tem espaço para todos: tanto para os que querem ver o mar como para os que… aparentemente não precisam de ver nada.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 26 de Novembro de 2024
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