Zelensky e o "quase" Portugal

 

N ão devo ser o único que lhe encaixou mal o "quase" do Zelensky a Portugal (link) para as suas pretensões, mas a guerra e a aflição pode tornar os sentimentos mais exigentes. Tem essa desculpa. Portugal estima ucranianos e não é de agora, é fruto da perceção através da emigração. É um povo sereno, competente e trabalhador. Aqui na Madeira, nunca me esqueço de uma situação verdadeiramente singular quando um funcionário das obras, que na Ucrânia tinha sido médico, salvou um colega num acidente de trabalho através de uma intubação traqueal com um tubo de eletricidade. Humildade e conhecimento.

A guerra é algo grave e completamente disfuncional, sabemos que as prioridades atabalhoadas ao ritmo das agressões e das afirmações políticas são imprevisíveis. A entrada de países na União Europeia respeita requisitos e, mesmo cumpridos, não ficamos imunes a indivíduos como Orbán. Quando se tem de estar de acordo a 27 Estados Membros, não perfilar pelos mesmos valores numa democracia regularizada por instituições de fiscalização é um erro. Tem de haver um quadro democrático onde se pode atuar, um garante de estabilização democrata. Imagine que, de hoje para amanhã, num milagre de Fátima, a Rússia entrava na União Europeia, tal como está. O que não seria esse elefante numa loja de loiça. A Ucrânia não é a Rússia mas tem imensos passos a dar, é preciso entender que a par da total solidariedade que a União Europeia dá à Ucrânia, apoio como se fosse membro, o percurso de integração na União Europeia tem regras, até porque há outros à espera e uma ultrapassagem seria uma injustiça, alguns demoram porque eles próprios não aceleram com reformas. Há situações dolorosas. Imagine num outro milagre da Fátima que a Madeira não estava sob a asa de Portugal, se fosse independente para regozijo do isolacionismo ladrão e quisesse entrar na União Europeia. Não entraria, as suas instituições não funcionam, estão capturadas pela cleptocracia. Agora imagine a verdadeira ilha de privilégio que temos, com oligarcas com uma mão no Orçamento Regional e outra nos Fundos Europeus a gerar pobres e um CINM de corrupção e lavagens...

Por isso, Zelensky, tenho-te muito respeito, és no momento o defensor das democracias e do ocidente mas não esticar a corda dessa maneira pode ser um excelente conselho, para não provocar desmobilização e desinteresse. Não provoques o desligar de ouvidos de muitos. Zelensky mede as palavras para que não te isoles como Putin onde contam só as convicções próprias. Num momento de guerra ninguém desune mas num momento de paz os registos serão lembrados.

Há países muito mais exigentes do que outros no seio dos 27 e os mais exigentes, por norma os contribuintes líquidos, são os mais atentos às regras que garantem que os impostos gerados no seu país não servem lugares como a Madeira. Caro Zelensky, repare que até os que não são contribuintes líquidos não admitem ter feito o percurso de integração para ver exceções às regras. Quem emigra, integra e decide assim porque sente que evolui, portanto, deve respeitar as regras que trouxeram mais desenvolvimento a cada Estado Membro e não ter ideia de chegar e desatar a impor novas regras. As que existem são fruto da experiência dos que estão. E porque estou a escrever para o CM e se pode dizer mais, não seja como alguns Miras nesta Região, que foram acolhidos com privilégios e facilitismos políticos para montar as suas máfias junto do Governo Regional, trazendo o que deu errado na Venezuela para aqui na Madeira. Se houvesse regras europeias na Madeira isso não aconteceria, assim, temos um Putin a zelar pela sua manutenção. A solidariedade europeia é para todas e não se gere por sectarismos político/ partidários. Por isso temos pobres ao fim de décadas.

Nunca a Europa se mobilizou tanto e em Portugal nunca foi visto tamanha solidariedade. Senhor Zelensky, em Portugal há pobres e necessitados sem tanta atenção, estão aqui esquecidos e vêem todo tipo de "ajudados" mal agradecidos, exigentes e arrogantes. Agora pense como esses se sentem ao ficar para trás no seu próprio país.

Finda esta exposição, toda a minha simpatia pela Ucrânia e os ucranianos segue intacta, é que eu também posso ter um "chega para lá" e um acesso de exigência.

Enviado por Denúncia Anónima.
Sábado, 26 de Março de 2022
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