O Herói dos Jornalistas


H oje, a Redação do Blog mais lido das Ilhas Desertas está deserto. Logo que saiu a edição de domingo do jornal mais lido da Rua dos Netos, com a notícia de primeira página de que Pedro Calado ia dar emprego e uma casa aos sem-abrigo, os jornalistas idóneos montaram a trotineta elétrica e foram a correr para a Rua de Santa Maria.

Oferecer um emprego e uma casa não é como oferecer frangos, uma oportunidade destas ninguém pode perder. Chegados ao Mercado Municipal, os jornalistas idóneos deram de caras com mais de vinte mil desempregados, que logo que leram a notícia tiveram a mesma ideia e foram ocupar as ruas. Alguns até puxaram lustro à pedrinha de marcar o lugar na bicha do leite de antigamente.

A maioria empunhava cartazes com palavras de ordem como “Pedro és um santo!”, “Pedro, o novo Jesus!”, “Querido Presidente!”, “Pedro dá-me a tua camisola”, “Miguel pra rua!”. Os jornalistas idóneos despiram-se, jogaram a trotineta para o meio da ribeira de Santa Luzia e foram-se sentar no chão no meio de uns papelões com uma garrafa de Ganita à espera do Messias. 

Segundo constava entre os sem-abrigo, os 49 apartamentos do Savoy Residence foram todos adquiridos pelo Município do Funchal para oferecer a quem provasse ser sem-abrigo, um deles até armou uma confusão porque dizia que tinha direito ao Triplex e que na próxima reunião de condóminos ia exigir ter direito à piscina por ser um dos mais antigos.

Segundo o “Cebola”, um dos sem-abrigo mais conhecidos do Funchal, o Pedro Calado para além de um duplex mobilado, ofereceu-lhe emprego como Técnico Especialista e até lhe disse que nem precisa de aparecer no emprego.

Os traficantes da zona reagiram violentamente ao anúncio, alegaram que Pedro Calado queria destruir-lhes o negócio, o que era contra o livre empreendedorismo e prometeram novas formas de luta porque pagam os seus impostos e sentem-se lesados pela iniciativa da Câmara.

No meio da multidão de novos sem-abrigo, os jornalistas deram de caras com alguns candidatos do PSD que, como ficaram sem a mama, querem também um apartamento, cedendo o emprego para quem mais precisasse porque até nem sabem o que é trabalhar.

Enquanto os jornalistas emborcavam o Ganita para ficarem bêbados, aproximou-se um jovem que lhes perguntou “mira coño, es aquí donde ofrecen vivienda y trabajo?”, ao que o jornalista a morder a cena respondeu: "pero no coño, el gobierno socialista és en Lisboa".