Voar barato a somar

 

M iguel Albuquerque e Eduardo Jesus se não tiverem pulso com a Ryanair ela vai se tornar numa faca de dois gumes. Os passageiros só vêem preço porque os vencimentos são curtos, aqueles que nunca experimentaram ficar apeados sem protecção ainda ilusionam conhecer mais por pouco. É bom viajar, abrir horizontes. A conjuntura é difícil para explicar, só com a experiência poderemos ir mais além...

A Ryanair, companhia aérea de transporte de passageiros, assenta o seu negócio no engodo de preços ultra reduzidos, despindo a tarifa de qualquer standard de qualidade para depois ir adicionando serviços conforme o desejo do passageiro, quase tudo é extra para pagar à parte. "Convida" os passageiros a bordo com direito a se sentar e fazer a viagem e depois, todos os "non-flight" e "in-flight" vão adicionando ao preço, que pode ser comprado junto com o voo ou a bordo. Junte tudo, esse é o preço final. Pontualmente ou adicionalmente, conforme o destino, vende alojamento e seguro.

A Ryanair é indicada para passageiros em turismo ou negócios em voos de curta distância (o seu mercado) e ponto a ponto, uma "perna de ida e outra de regresso". Combinar viagens é difícil, não é como a TAP e a companhia não tem compromisso para além dos previstos pela lei ou pelo seguro se comprar, ou seja, protecção ao passageiro para enfiá-lo noutras companhias se ficar apeado não é possível. Contudo, a Ryanair tem várias parcerias para voos de longa distância.

Com esta pandemia tudo virou do avesso, por essa razão falemos da Ryanair de 2017, com 360 aviões Boeing 737-800 e 2000 voos por dia, o que dá para perceber que a média é de 5,56 voos dia por avião, só no ar o avião faz negócio para mais ou menos 200 aeroportos na Europa, Norte de África e Israel. É até onde a sua frota de B737-800 alcança.

A natureza da companhia aérea torna os seus administradores e CEO conhecidos pela agressividade com governos, entidades gestoras de slots e aeroportos, naturalmente contra companhias concorrentes. Os pontos fracos da companhia são os voos para aeroportos secundários (junte o custo do transporte para chegar a centralidade no preço do voo), a sazonalidade de muitos voos (o predador de oportunidades de épocas altas), a sua reputação de prestar um fraco serviço e deixar pessoas apeadas (desde overbooking a cancelamentos), as condições de trabalho já denunciadas no nosso país, a sua dependência da Boeing, a percepção que as pessoas têm da marca, os diferendos que tem com a União Europeia mas não se cansa de abrir novas "guerras". O trato e relacionamento é sempre tumultuoso o que por vezes transfere o ónus para os passageiros. A melhor imagem que se pode ter da companhia é que têm a atitude dos Renovadinhos contra Lisboa.

Vamos ao que importa, os gestores da Ryanair anunciaram que para além do apoio financeiro para promover o destino Madeira, tiveram um desconto nas taxas aeroportuárias no Aeroporto da Madeira. Aquelas sagradas porque servem para pagar dívidas a credores... É sabido que são caras e com influência nos preços, é caso para dizer... se a Ryanair consegue as outras companhias também deveriam. Aberto o precedente é começar a replicar o processo da Ryanair e receberem todos bons descontos para reflectir nos preços das nossas passagens aéreas. É que acaba por ser uma falsa low cost onde o verdadeiro custo é quando nos deixa pendurados. O dinheiro não sai da algibeira (se não adicionar serviços) mas sai dos impostos. É evidente que ninguém se importa com isso porque acham que o dinheiro do estado é dinheiro dos outros. É estranho que a Ryanair se revolte contra os apoios financeiros à TAP dados pelo Estado que é o proprietário actual, quando acaba de receber. Afinal quem não chora não mama.

Dei comigo a pensar nisto, a Madeira cria o subsídio social de mobilidade (SSM) e torna as tarifas mais caras e agora, dando descontos nas taxas aeroportuárias a uma e não a todas as companhias aéreas, parece que as outras encarnam a Naviera Armas na aviação. É para irem embora com a injustiça? Os governos não regulam um mercado livre? Agora têm preferências? 

Quando comprar passagem, veja bem o que compra, quanto custa os adicionais que venha a precisar e compare com as outras. Embevecidos com os preços, não é hora de abordar outro assunto. A excepção foi aberta (taxas aeroportuárias), a companhia prossegue a sua forma de estar truculenta, vamos ver os destinos e perceber até onde o Governo que manda bocas à TAP mas é livre, vai ficar presa a uma low cost para encher o único hotel da Madeira. Mudamos a natureza do nosso destino em dois tempos, veremos...

É de esperar reacções das outras companhias aéreas nos destinos que a Ryanair servir. Quando é que o Governo da República negoceia com a TAP o serviço para a Madeira? É de seu interesse baixar a factura do SSM. Por aqui é só propaganda a super-heróis com pés de barro.

Some antes de comprar!

Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 01 de Dezembro de 2021
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