Quando o jornalismo não assume...


N ão vivemos as cenas idílicas de Hollywood, lendo um jornal em papel na cadeira de baloiço do alpendre, produto de uma redacção repleta de jornalistas, num entra e sai, consumindo as notícias de pelo menos o dia anterior, quando o mundo andava mais lento na acção-reacção, com estadistas e desafios complexos oriundos da guerra fria.

Hoje não se vive do valor da notícia, nem de quem explora habilmente cada uma para compor a sua previsão ou, pelo menos, profetizar alguma conjuntura futura com as informações privilegiadas mas não certas para acabarem como notícia. Vivemos um tempo sem paciência e, pelo menos por cá, armados em povo superior, de pouca leitura mas de consumo consentido de fait-divers, curiosidades, tretas, com o dedo impaciente no telemóvel em busca de uma satisfação no zapping. Parece gostoso ser enganado, é mentalmente mais amistoso quando não se é cúmplice. Há clientes para tretas, não para notícias e é por isso que não podemos levar a mal quando a comunicação social se adapta, no decurso medíocre de ambas as partes. Idiotas e medíocres são promovidos, os valorosos são inconvenientes. Por esta razão são suficientes os jornalistas baratos e não pensantes. Para pensar, sobretudo na manipulação, estão os grupos, os chamados lóbis. Cada um executa a sua missão na mentira e ganha uma confortável vida por isso.

A crise do jornalismo, agora e verdadeiramente na Madeira, não é singular na história, tivemos a pós-industrial; a recente onde o jornalismo se tornou digital e a necessidade de conseguir outras fontes de receita, mas agora podemos dizer que estamos na verdadeira era da crise do jornalismo. Dependente e acoplado ao poder ou daqueles que enriqueceram noutras áreas e que precisam de manter o ambiente, criar o "paradeiro", se branquear.

O desafio que se segue é o retorno ao Jornalismo Independente. Mas como? Desde já necessário, para que a população não se deixe amolecer e cegar, para que esteja ciente e não se deixe agradecida por migalhas. Precisamos de um momento de ruptura e renascimento do jornalismo, com projetos não ligados a grandes grupos, políticos, organizações ou empresas.

A informática, a internet e as redes sociais trouxeram a liberdade para que cada um, com o mínimo de conhecimentos, tenha a possibilidade de produzir, partilhar informações e chegar ao mundo, enquanto isso, os jornalistas e o jornalismo regional vivem o oposto, enclausurados na Madeira, com rotinas que só quebram quando alguém de fora descobre algo de ruim. Infelizmente, rendidos e orgulhosos por isso, poucos não se renderam aos DDT. Começou com os primeiros vendidos a fazer sair fretes a alguns políticos em altos cargos da actualidade, estão todos como assessores bem remunerados, um mundo bem melhor do que o mundo que resulta da crise económica e que eles tanto maquilham por ser culpa do governo dos seus patrões.

O que sucedeu é fruto da incompetência do próprio jornalismo que se foi deixando emaranhar, porque enquanto 4º poder nunca teríamos 40 e muitos anos de poder beatificado e agora legitimado. Por muito que lhes custe, as tecnologias do presente vão resgatar valores e procedimentos estruturadores da profissão no passado. Mais do que criar modelos de negócio sustentáveis, o povo resistente vai provar que nada é irreversível... estão para acontecer coisas fora do controlo.

Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 1 de Novembro de 2021
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