P or definição, a Inveja é um sentimento de angústia ou ódio, perante o que os outros possuem, mas qual de nós um dia não sentiu inveja de alguém. O problema é que a inveja é hoje uma justificação para aqueles que se sentem ameaçados pela denúncia dos seus atos ilegais, por isso é comum apelidar-se alguém de invejoso quando crítica o enriquecimento ilícito de alguns políticos, como se a inveja fosse o mais hediondo dos crimes.
Estamos convictos de que ninguém tem inveja dos mil milhões do melhor jogador de futebol do mundo porque sabe que tudo o que ele tem se deve ao seu trabalho e profissionalismo e à boa gestão da sua carreira. E mesmo que Cristiano Ronaldo usufruísse de um desconto ao adquirir um Ferrari isso deveria ser considerado uma excelente aposta de marketing da famosa marca do cavalinho e não um favor.
No outro extremo da inveja estão os que enriquecem sem qualquer justificação ou honra porque como se sabe não há honra entre ladrões. Se os fins justificassem os meios, um simples ladrão que assaltasse um Banco e roubasse mil milhões sem ser apanhado também deveria ser considerado um génio e só por isso devia ficar impune. O que acontece é que se for um desconhecido é condenado pela maioria da população ou por qualquer Tribunal do mundo, mas se for um político possivelmente é ilibado pelos Tribunais com a agravante de voltar a ser eleito pela população. Na nossa história recente conhecemos muitos políticos que foram condenados por crimes de corrupção e peculato a pena de prisão efetiva e voltaram a ser eleitos como se o crime fosse aceitável se cometido por um político.
A corrupção instalou-se na sociedade portuguesa como algo normal e aceitável e não é por acaso que a Europa olha para os países do sul com desdém. Um dia destes alguém escreveu que a cunha, comparada com a corrupção não deveria ser considerado crime, esquecendo-se que o tráfego de influências é crime. É justo passar à frente de uma lista de espera para uma cirurgia ou ter um emprego na Função Pública sendo o pior dos candidatos? Mas se a cunha é aceitável para os mais distraídos, a corrupção e o enriquecimento ilícito dos políticos não o deveria ser.
A cada dia que passa é comum suspeitar-se que a corrupção está a se generalizar com políticos a aceitar dividendos e comissões de grandes negócios públicos, como as obras, sem que a Justiça se preocupe em investigar, o que leva muitos a suspeitar que a própria Justiça caiu na teia da corrupção, porque a justificação de que a Justiça não tem meios para investigar crimes económicos não é aceitável num Estado de Direito, assim como nós a invocar que desconhecíamos a lei se praticarmos um crime.
Já todos percebemos que é mais fácil investigar e condenar um jovem estudante que viajou de Lisboa para o Funchal com 100 gr de haxixe no bolso do que um político que já desviou mais de oito milhões de euros para o seu bolso.
Com tudo isto, ao cidadão que foi condenado pelo Tribunal da Relação a um ano de prisão por ter roubado 50 chocolates de um supermercado no valor de 23,85 euros só podemos mostrar misericórdia e o eleger Presidente do Governo Regional.
A inveja afinal é apenas uma questão de preço.
Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 16 de Outubro de 2021
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