7 pecados na capital


U ma semana após as eleições no Funchal, vamos abordar a estratégia do PSD na reconquista da câmara à Coligação Confiança e compreender o porquê desta eleição estar praticamente inquinada à partida, tamanha era a desigualdade entre as forças políticas em disputa.

1. Contexto Partidário

Depois da perda da maioria absoluta nas últimas regionais, o PSD tornou-se muito mais pragmático na abordagem à conquista e manutenção do poder. Sabendo que a coligação que governa a CMF ia manter-se quase inalterada, o PSD tentou fazer a coligação mais alargada possível, comprando o CDS e o RIR e tentando uma aproximação ao PAN que saiu frustrada e outra ao JPP que acabou por concorrer sozinho. Assim sendo, tomando como referência as eleições de 2017, a Coligação do PSD garantia à partida matematicamente 25 mil votos, mais votos do que os 23,5 mil votos obtidos pela coligação do PS (com JPP).

2. Escolha do Candidato

Se do lado da Confiança, Gouveia acabou por ser uma escolha natural uma vez que já se encontrava em funções, o PSD ensaiou junto do eleitorado quase duas dúzias de nomes. Manuel António, Eduardo Jesus, Pedro Fino, Pedro Ramos, José Prada, Carlos Rodrigues, Pedro Coelho, Amílcar Gonçalves, Brício Araújo, Rubina Leal, Pedro Gomes, Bruno Pereira, Nuno Teixeira, Sara Madruga, Tranquada Gomes e até Rui Barreto constaram entre os potenciais candidatos utilizados em sondagens, ao que acrescem imensas abordagens a “independentes” de Cristina Pedra a João Batista. No final não havia volta a dar, os estudos de opinião apontavam que o único que conseguiria fazer frente a Miguel Silva Gouveia era Pedro Calado, vice-presidente do Governo Regional e administrador do Grupo AFA. Face a esta realidade não restava qualquer alternativa ao PSD a não ser lançar o Golias contra um David, lançar o “menino de ouro” do regime contra o Gouveia das zonas altas. E assim foi.

3. Bloqueios

Desde cedo que ficou evidente que o PSD procurava tornar o Funchal ingovernável e já o havia demonstrado com imensos ataques do governo e das empresas públicas contra a CMF. Dos aumentos dos preços da água à betonização das ribeiras, da recusa em fazer contratos programa ao ataque cerrado pelos diversos secretários, do recurso à sentença de pagar o dinheiro devido do IRS à tomada de posse da Placa Central, o governo mostrou que era capaz de tudo para bloquear a Câmara Municipal do Funchal. Com a entrada do CDS no governo em 2019 tudo se agravou. PSD e CDS tinham maioria na Assembleia Municipal e utilizaram-na até à exaustão para chumbar orçamentos, bloquear investimentos e boicotar ao máximo o trabalho do executivo municipal. O objetivo era claro e maquiavélico, demonstrar que o Funchal estava pior sem o PSD. Dadas as circunstâncias foi quase um milagre que Gouveia tenha conseguido levar o mandato até ao final debaixo de tanto fogo. Apesar de tudo aguentou-se firme e mostrou obra. Teve mérito.

4. Comunicação Social

Quando em 2020, o Grupo AFA comprou o Diário de Notícias morreu a imprensa livre na Madeira. Se à data o JM já se afirmava como um jornal ao serviço do PSD e a RTP uma coutada do Grupo Sousa, esta operação enterrou o escrutínio que um jornalismo independente oferece às democracias saudáveis. Durante meses a fio o Funchal assistiu a uma visão adulterada da realidade social e económica, potenciada pela pandemia, em que o Pedro Calado já candidato, aparecia nas vestes de vice-presidente do Governo Regional e merecia tratamento preferencial em jornais, rádio e televisão. Foram largos meses de aparições diárias, representando todo o governo regional, de presidente a secretários, e ainda na condição de copiloto de ralis, sempre ungidas com um estado de divindade. Um Calado Messias.

5. Programa para a Cidade

As propostas serão provavelmente o calcanhar de Aquiles de Calado. Prometeu o mundo aos funchalenses que foi incapaz de apresentar enquanto vice-presidente do Governo Regional. Para a eternidade ficarão propostas como o estacionamento de 1500 lugares no Largo do Município, as teleconsultas gratuitas para todos os funchalenses, sejam pessoas ou animais, a diminuição de um IMI que já está no mínimo legal, o serviço de autocarros gratuitos a pedido ou a reabilitação dos bairros sociais da competência do governo. Prometeu tudo sem contraditório jornalístico, prometeu ao Funchal que o Governo ia fazer o que nunca fez. Ganhou muito com isso porque ninguém questionou se “a esmola é muita” e como daqui a 4 anos ninguém se irá lembrar do que foi prometido, Calado ganhou. Gouveia falhou. Devia ter prometido mais. Seriedade não ganha eleições e está comprovado.

6. Campanha Eleitoral

Muito dinheiro correu nesta campanha. O PSD gastou centenas de milhares de euros numa campanha do tudo ou nada, ao que se acresceu o dinheiro gasto pelo Governo Regional nas ações promocionais do seu candidato e apoios dados a todos. Calado seguiu a cartilha das agências de comunicação pagas a peso de ouro que deram resultados em 2019. Vitimizou-se desde o primeiro dia a pedir campanhas limpas quando promoveu uma campanha de ódio, comprou entrevistas em jornais e revistas nacionais, tentou fazer-se homem de família quando toda a gente lhe conhece o currículo e conseguiu o feito da década ao unir o velho PSD com o novo. Teve Alberto João e Albuquerque, teve almoços com assistentes sociais, teve retribuição de apoios de IPSS e clubes desportivos e ainda contratou jornalistas despedidos com influência para assegurar “boa imprensa”. Calado mostrou-se nervoso nos debates, mas agressivo e pouco educado. Gouveia quis jogar limpo e perdeu. A política não é para honestos.

7. Mobilização Eleitoral

Nunca como nestas eleições se verificou uma azáfama tão grande em redor das Assembleias de Voto. Por um lado, o PSD levou delegados às dezenas para fazer a necessária pressão junto dos eleitores e das mesas de voto. Desde secretários e diretores regionais a administradores de empresas públicas e jotinhas, todos trajavam o seu polo laranja a condizer com as máscaras FFP2, enquanto se passeavam pelo interior e exterior das assembleias de voto a cumprimentar quem chegava e relembrar o "favorzinho". Não menos importante foram as centenas de eleitores transportados por carros do SESARAM, carros particulares e carrinhas de casas do povo, cujos motoristas se encontravam munidos de listas de nomes a "descarregar" o voto no quadrado certo. Uma gritante anormalidade quando sabemos que essas listas tinham proveniência nas bases de dados da Segurança Social que paga os layoffs, das Casas do Povo escolhidas para dar os apoios do FEAS e do FAROL e do próprio IA-Saúde que distribuía operações a pessoas nas galopantes listas de espera.

Por tudo isto, a Coligação Confiança e Miguel Silva Gouveia tinham o destino selado já há muito tempo. E, tal como eles, perdemos todos. A Madeira, o Funchal e cada um de nós.

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 2 de Outubro de 2021
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