De que vale ir sempre à frente quando não há confiança?


S endo filho e neto de emigrantes, cheguei à região na década de 70 do século passado, onde fixei residência, e, pela primeira vez, exerci o meu direito de voto. Ainda era muito jovem, um adolescente, que pouco percebia de política, tendo votado no partido aconselhado pelos meus familiares, sobretudo os meus velhos avós, tios e primos, que foi, obviamente, o PPD/PSD, partido ao qual me mantive fiel durante vários anos, pelo menos uma década.

No meu percurso de vida, na transição para a vida adulta, reparei que os meus familiares ligados ao Governo Regional, apesar do salário não ser abastado, edificavam as suas moradias com maior facilidade do que aqueles que haviam emigrado à procura de um futuro melhor e comecei a procurar desvendar a receita para tal. Descobri então o segredo do milagre, é que sendo funcionários do Governo Regional, com cargos de chefia, desviavam camiões de material (areia, brita, cimento, ferro, etc.) para a construção das suas vivendas, mas não só ... também os seus subordinados eram contemplados no esquema para não "darem com a língua nos dentes" porque até os trabalhadores eram desviados do trabalho de obras públicas para serem mão de obra na edificação de quintas das suas chefias.

A minha admiração pelo Governo Regional e o partido PPD/PSD desvaneceu-se num ápice, num abrir e fechar de olhos, e passei a votar na oposição, não porque seja comunista ou fascista, porque sou convicto de que a democracia é sinónimo de liberdade, mas nesta região o partido que se afirma social democrata, de democrático apenas tem o nome já que na realidade o que pratica é uma oligarquia que só serve os interesses dos seus afiliados praticantes e o povo faminto vende-se num arraial de bailinhos, vinho com laranjada e espetada. Este PSD é o partido que constrói na véspera da inauguração para destruir depois, o que importa é desviar a atenção do zé-povinho, encher os bolsos dos seus políticos e construtores associados, repartindo os dividendos entre eles, pelas elites do regime.

Quando oiço falar de 'Funchal sempre à frente' penso no exemplo que presenciei há alguns anos durante umas férias num cruzeiro com chineses. Nas excursões, no autocarro, eles até não iam sentados nos primeiros bancos, mas quando saiam empurravam a todos para as extremidades e passavam à frente, sobretudo quando haviam provas de bebidas ou petiscos da região, em que os mais velhos até eram atirados ao solo com tal selvajaria, pareciam porcos numa suinicultura na hora de atingir o gamelão.

Na hora do voto, vou exercer o meu direito em democracia, não a correr 'sempre à frente' dos outros na direção do gamelão, mas com 'confiança', no caminho correto, sem pressa, convicto de aquilo que estou a fazer é escolher a equipa certa para exercer a representação do que é serviço público e não de uma minoria com interesses pessoais, que apenas enchem a barriga de quem governa e dos seus familiares e amigos, a tal oligarquia podre de laranjas regionais.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 9 de Setembro de 2021
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