Até sempre Sampaio

 

P or casualidade mas com simbolismo, o ex-Presidente da República Jorge Sampaio morre em plena campanha eleitoral das Autárquicas, sendo ele, na história da democracia do pós 25 de Abril, o primeiro político que através do Poder Local e de uma Câmara Municipal chegou a Presidente da República.

O trajecto, desde o poder mais ligado ao povo à posição de máximo representante do povo, trouxe-nos um Presidente afável, o "cenourinha" carinhosamente tratado por alguns, marcado pelo ambiente de casa por um pai médico que incutiu o espírito crítico e de debate, e da mãe, de ascendência judaica e formada em Inglaterra que falava sempre em inglês com Sampaio. Ela incutia-lhe a eficácia e o pragmatismo mas não lhe assimilou a dureza. Por isso, não é de estranhar que surgisse a liderar a crise académica de 1962, em contestação ao governo fascista e onde fazia ponte entre os comunistas e os católicos na luta nacional anti-fascista. Também não é estranho que tenha conseguido a primeira aliança com comunistas na primeira vitória como Presidente da C.M. de Lisboa.

As conquistas de Sampaio dão-se pela sua credibilidade, em qualquer discussão, as dúvidas (até nas alianças com o PCP) dissipavam-se pela confiança nele, esperava-se a capacidade uma pessoa racional, ponderada e educada, com especiais dotes para apaziguar, de ser afável, de suavizar o discurso mesmo nos momentos mais críticos e duros mas, executando-os. Quem não se recorda da demissão de Santana Lopes como Primeiro-Ministro numa altura de deriva. Deveria ser uma lição para a Madeira! Julgo ser a principal oferta que Sampaio deu à Madeira mas que esta ainda não entendeu. Para poder receber.

Sampaio emocionava-se e isso mostrava que ainda era um humano para o povo e não um desprezível e cínico animal político. É, foi, a ética na política e no serviço público. Quão importante é recordar tudo isto nos nossos dias. Até sempre Sampaio, que teu legado perdure.