A história de Maribel


E sta história é verídica e contada na primeira pessoa. Por questões de proteção de identidade dos visados, os nomes e os locais foram propositadamente trocados. Maribel é uma jovem venezuelana, neta de emigrantes madeirenses que partiram para a Venezuela, em 1968, em busca de uma vida melhor. O pai tinha uma “licorería” numa das zonas mais perigosas de Caracas e foi assaltado mais de dez vezes mas, continuava teimosamente à frente do seu negócio, protegido por uma arma.

Com o agravar da crise, o pai decidiu enviar a família para uma zona segura e Madrid foi a hipótese mais pensada mas, o custo das habitações e a crise de emprego em Espanha, refreou-lhes os ânimos.

Em 2019, Maribel fugiu finalmente de Maduro e da crise com o irmão e dois primos regressando à terra dos avós, em busca da segurança e de uma vida melhor. Embora o pai ainda falasse português em casa, Maribel conhecia apenas algumas palavras, insuficientes para construir uma frase correta em português.

Com Madrid fora de hipótese, a Madeira foi a luz ao fundo do túnel para uma jovem de 21 anos que, não se cansa de ser agradecida pelo apoio do Governo da Madeira. 

Os subsídios de reinserção chegavam para sobreviver na modesta casa da sua tia-avó, onde dormia com a prima num colchão que fora oferecido por uma vizinha e colocado sobre paletes. Dum mundo urbano e violento, Maribel sentiu-se bem no ambiente seguro e calmo da freguesia.

Jovem e bonita, depressa despertou a curiosidade dos mais jovens da freguesia que, quando se apercebiam que era venezuelana acabavam por se afastar. Como precisava de dinheiro não levou muito tempo para arranjar um emprego num pequeno supermercado e o prometido ordenado de 360 euros, em dinheiro, era uma pequena fortuna quando comparado com os bolívares que ganhavam na Venezuela.

Todos os dias, às 8 da manhã, arrumava e reponha os expositores dos legumes e da fruta e demorou algum tempo a se integrar. Perceber o português até foi fácil, mas o difícil mesmo era esconder o sotaque venezuelano e sentiu na pele a xenofobia dos locais. O supermercado fechava às 20H mas, Maribel ficava sempre até às 22H arrumando e limpando tudo para o dia seguinte, folgando apenas aos domingos. 

A pandemia trouxe a crise e o salário que usufruía começou a falhar mas, em compensação, o dono do supermercado oferecia-lhe alguma fruta, salsichas e legumes que lhe chegava para sobreviver.

Um dia Maribel sentiu saudades da Venezuela, pediu apoio à embaixada e, mesmo sujeita a morrer com um tiro, regressou à insegurança da Venezuela de Maduro para perto dos seus.

Um dia destes, soube pelo primo que trabalha num bar de Poncha da Ribeira Brava que Maribel estava agora no Uruguai, que tinha um namorado uruguaio e que era feliz.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 7 de Setembro de 2021
Todos os elementos enviados pelo autor.

Adere à nossa Página do Facebook (onde cai as publicações do site)
Adere ao nosso grupo do Facebook: Ocorrências CM
Segue o site do Correio da Madeira