Coluna Vertebral de Escravo


C omo madeirense que sou, mas acima de tudo atento ao que me rodeia, às noticias que vou lendo, às atitudes dos nossos governantes e à forma como esta ilha, apesar de bafejada várias vezes por subsídios e ajudas europeias, continua a produzir cada vez mais pobres, vejo-me muitas vezes a tentar entender o porquê de continuarmos a insistir sempre nos mesmos para decidirem o nosso destino.

Julgo ter encontrado a razão:

Reza a história que os três capitães-donatários, no inicio do povoamento da Madeira, trouxeram as respetivas famílias e com elas um pequeno grupo de pessoas da pequena nobreza, gente de condições modestas e alguns antigos detentos do reino.

Para além disso, no século XV a produção da cana sacarina na Madeira cresceu de tal forma que surgiu uma grande necessidade de mão-de-obra. Para satisfazer esta carência, foram levados para a ilha escravos originários das Canárias, de Marrocos, Mauritânia e, mais tarde, de outras zonas de África.

Assim, é fácil perceber que na nossa origem comum, salvo alguns raros casos de pequena nobreza (presumo que sejam os nossos atuais governantes – ironia – acho que são mais afiliados aos detentos) estão gentes de condição modesta, detidos do reino (sabe-se lá porque crimes) e escravos.

Não me envergonho das minhas origens, não tenho qualquer receio de um dia descobrir que o meu hexadecavô foi escravo. A mim o que me envergonha é a forma como continuamos a olhar uns para os outros. Se o Zé da esquina, pasteleiro de profissão, filho do sapateiro, estudou, trabalhou, fez boa gestão do seu rendimento e conseguiu passar de pasteleiro a proprietário da padaria e depois dessa abriu mais uma ou duas e continua a ter um negócio próspero. Se está cansado de ser um mero pagador de impostos e nunca ter direito a nenhum daqueles subsídios enviados pela EU para ajuda nesta pandemia e noutras situações mais. Se até acha que está preparado para assumir um cargo na gestão desta ilha, para candidatar-se e dar a cara por muitos mais que se encontram na mesma situação que ele, qual é o problema de lhe darmos essa oportunidade? Não é por nada, mas provavelmente o Zé da esquina faria melhor do que tem sido feito.

O problema é que nós não deixamos. Parecemos viver num sistema de castas. Dum lado os senhores – nobreza – que só porque têm um curso e pavoneiam o seu fatinho e sapato de lustro (os senhores doutores), alguns nem sabem o que significa trabalhar ou até mesmo procurar trabalho porque tudo lhes é dado de mão beijada, e do outro, os pata rapadas que incrivelmente não passam de patas rapadas porque os seus semelhantes patas rapadas nunca lhes dão essa oportunidade. Somos mesquinhos ao ponto de não vermos mais além da distância do nosso nariz. Não pensarmos que se o Zé da esquina realmente for eleito será sim um SR presidente ou SR secretário mas talvez a nossa vida também melhore. Porque o Zé nasceu pobre. O Zé estudou e mesmo sem cartão do partido construiu o seu negócio. Venceu por sua conta e sabe o quanto custa vencer. Mas não. A nossa espinha de escravo, sempre vergada ao amo, independente do trato que o amo nos dá, faz-nos donos de uma obediência canina. Pior, se sabemos que o Zé da esquina vai se candidatar começamos logo a tecer a trama: o Zé? Aquele que tem uma amante? O que bate na mulher? Não sei como é que ele conseguiu comprar uma padaria, se calhar roubou o patrão … and so on

Vamos logo denegrir, deitar pedra em cima porque, se eu não consegui, o Zé também não podia ter conseguido. Vamos mudar mentalidades? Vamos dar o benefício da duvida a caras novas, novas ideias; menos rabos de palha? Os que lá estiveram já sabemos ao que vão e irão continuar se nós (e somos muitos e o nosso voto vale imenso) não mudarmos o nosso sentido de voto, a nossa mentalidade e a nossa forma de estar na vida.

Vamos mudar cada um para que o coletivo também mude

Obrigada CM pela oportunidade de expor ideias sem ser queimada na fogueira. Prevejo muito comentário depreciativo mas os anónimos não são atingíveis. Por isso, certamente votarei no Zé!!!

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Enviado por Denúncia Anónima
Segunda-feira, 12 de Julho de 2021 13:17
Todos os elementos enviados pelo autor. Imagem adicionada pelo CM.