Os miúdos das caixinhas!

 

Q uem não se lembra dos miúdos das caixinhas, que pululavam no cais da cidade pedindo uma moeda a todos os que por lá passavam. Trespassamos décadas, os miúdos cresceram mas ficaram os hábitos de pedir esmola a quem por cá passa. Basta um Presidente da Republica, um Primeiro-ministro, um Ministro ou um Secretário de Estado vir à Madeira, para os miúdos das caixinhas aparecerem em bando a pedir uma moeda a qualquer um deles para a Autonomia de "sucesso".

A pobreza de uma Região não justifica tudo e se a esmola fosse para matar a fome não seria vergonha nenhuma mas, todos sabemos que a esmola vai bater sempre aos bolsos dos mesmos. Cada vez mais cava-se o fosso entre aqueles que enriquecem com as esmolas e os que das sobras têm de sobreviver.

O Governo Regional continua a pedir esmolas para anunciar obras que só criam empregos temporários e precários. As obras não criam riqueza estável nem emprego duradouro, apostando sempre num modelo económico a quatro anos, isto é, de eleições em eleições. Está a tornar-se hábito anunciar a cada quatro anos o que não passam de projetos ou de elefantes brancos. Onde anda o Toco, Calado vai reavivar?

Quem não se lembra da Marina do Lugar de Baixo que depois de construída prometia criar emprego? Quantos empregos criou? Quem não se lembra de todas as outras obras das Sociedades de Desenvolvimento que se encontram ao abandono? Que é feito do famoso campo de vólei do Penedo do Sono? E do complexo balnear do Faial? E do Parque Temático da Santana?

A Madeira não tem estrategas e a solução mais fácil é sempre as obras. O porto do Funchal não tem cruzeiros? A solução é aumentar o tamanho da Pontinha e esperar que eles se lembrem de vir! A Laurissilva não tem turistas? Esventra-se uma estrada para eles visitarem de carro!

A grande realidade da Madeira é que as obras criam emprego enquanto durar a construção mas depois, o objetivo da sua construção esvai-se no tempo, porque simplesmente não existe uma estratégia de continuidade. Não se cria os esperados empregos que justifiquem o investimento, é somente um engodo.

Numa Região em que mais de 45% da população ativa está no desemprego ou em Lay-off, a Construção Civil aparece aos olhos dos políticos como uma miragem de salvação, para prorrogar uma economia débil e dependente do Turismo, com um PIB real ofuscado pelos números virtuais do Centro Internacional de Negócios. 

A História ensinou-nos que as obras criam empregos temporários, enquanto durarem, e que depois volta tudo ao mesmo e a única solução é inventar mais obras. A continuar assim e no limite, os empresários madeirenses quererão ser todos empreiteiros e só não o são porque já perceberam que o mercado da Construção Civil está viciado e é sempre para os mesmos. A Construção Civil salvou a economia nestes dois anos de pandemia? Quantas empresas de Construção Civil foram criadas em 2020 e 2021? Quantas faliram?

E os outros? Quantos restaurantes fecharam? Quantos cabeleiros? E quantas famílias passam fome? Para os maus políticos que temos, a culpa ou é da pandemia, ou de Lisboa, ou ainda dos 200 mil madeirenses que se fossem inteligentes optavam por serem todos pedreiros. É esta a inteligência que João Jardim disse que a Madeira ia exportar? Pensava que eram empresas do terciário e não finalistas de curso rumo a emigração.

Os que não têm memória curta, sabem que antes do COVID-19 a crise no sector secundário e terciário na Madeira era já uma crua realidade que a pandemia veio apenas acelerar. 

Viva as esmolas para as obras!

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 4 de Maio de 2021 22:16
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