O Ambiente invisível

 

E m 2008, a falida Sociedade de Desenvolvimento da Ponta Oeste (SDPO) lutava pela aprovação do projeto do Teleférico do Rabaçal. O projeto megalómano previa esplanadas, restaurantes e 3 estações em pleno Parque Natural da Madeira.

Na altura, a Função Pública não estava minada de subservientes do Partido do poder e foi com alguma naturalidade que os técnicos do Parque Natural e da Direção Regional do Ambiente deram parecer negativo à sua construção. A destoar da maioria, ficou o Biólogo Domingos Abreu da Ordem dos Biólogos que considerava que o projeto valorizava a Natureza, uma opinião reconhecidamente política para agradar aos mesmos de sempre. 

Na época, Manuel António, o então Secretário Regional do Ambiente e Recursos Naturais considerava inicialmente que o teleférico valorizava a Natureza mas confrontado com a resistência dos seus próprios técnicos, teve a premonição de que o Teleférico do Rabaçal iria abrir uma guerra em várias frentes e isso teria um preço político elevado, remeteu-se ao silêncio para o assunto cair no esquecimento. Mas a guerra entre os técnicos e os políticos teve danos colaterais e o parecer negativo do Parque Natural terá levado ao afastamento da Diretora Regional do Ambiente, Susana Fontinha. 

E, se a Diretora do Ambiente foi afastada, não foi preciso esperar muito tempo para que o Parque Natural da Madeira fosse compulsivamente absorvido pelo Instituto de Florestas e Conservação da Natureza alegadamente em troca do silêncio e de uns tachos.

Tempos depois, perante a resistência dos técnicos, Miguel Albuquerque - e muito bem - colocou uma pedra final sobre o assunto anunciando um estudo (mais um!) para a viabilidade da utilização de uma viatura elétrica que permitisse a acessibilidade de turistas ao Rabaçal. 

A nova Secretária Regional do Ambiente, cheia de ideias e de sonhos académicos, trouxe consigo uma cara nova com uma nova estratégia para as Florestas mas, este depressa apercebeu-se que estava metido num ninho de vespas e por isso, em pouco tempo, foi posto a andar, porque é sabido que a sua estratégia colidia com interesses obscuros. 

A estratégia política mudou e nas Florestas ficaram apenas os vendidos e os apáticos técnicos colocados em prateleiras douradas para não levantarem poeira.

Em Agosto de 2016 um incêndio apocalíptico queimou 22% da área do Funchal com danos superiores a 60 milhões de euros e o incrível é que, quase cinco anos depois, continua-se a olhar para as serras do Funchal à procura das 19 mil árvores que os Açores prometeram à Madeira. 

As árvores teimam em não aparecer mas, lá em cima, continuam as giestas a crescer no meio do plástico verde de rebentos secos porque a reflorestação não é para dar resultados imediatos mas para render durante anos e anos.

Estes dias, António Costa anunciou que a reflorestação de Portugal é uma prioridade estratégica do Governo de Portugal e que iria disponibilizar mais de 7 mil milhões de euros na próxima década para a reflorestação integral do País. Basta António Costa abanar a árvore das patacas para que na Madeira se fique em bicos de pés para ver se sobra algum para a betonização das Florestas.

Perante estes cenários dantescos, cansada e visivelmente desanimada, a Secretária Regional do Ambiente foge dos problemas almejando por voltar para as suas lides académicas, para uma nova Tese de doutoramento sobre o Ambiente Invisível.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 25 de Março de 2021 11:01
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