Episódio 10 Ginjas: o estudo do governo soltou um pum


Anualmente atribuem-se prémios e galardões para os estudos mais inúteis e disparatados em várias áreas. São os prémios Ig-Novel.

No ano passado, por ex. foi vencedor na área da Medicina (Anatomia) um estudo sobre os Testículos, nomeadamente se o Testículo esquerdo dos carteiros franceses é mais quente que o direito. Em Biologia: Ling-Jun Kong, Herbert Crepaz, Agnieszka Górecka, Aleksandra Urbanek, Rainer Dumke e Tomasz Paterek, por descobrirem que as Baratas magnetizadas mortas comportam-se de maneira diferente das Baratas magnetizadas vivas.

Para este ano, um grande candidato ao galardão da “Ecologia e Ambiente” poderia ser o estudo da Gilililililililililiamb, Unipessoal. da Costa da Caparica, com o Estudo de Impacto Ambiental do Caminho das Ginjas - Paul da Serra a meio da Floresta Laurissilva Património da Humanidade.

Vitoria garantida a partida. 

Todo o EIA é farto em extensas explicações e caracterizações gerais da ilha e muito poucas análises e reflexões sobre as áreas de estudo ambiental. É uma extensa prosa repetitiva e monótona de considerações óbvias, banais e sem valor objetivo para o “core” do estudo, que é o impacto sobre a Floresta Laurissilva com o asfaltamento da Estrada das Ginjas.

Outros irresponsáveis dislates incluem: 

(…) dinamizar a região perante novos investimentos, que irão permitir o aumento do número de postos de trabalho e fomentar relações comerciais entre as povoações circundantes será desta maneira implementada. Deste modo, permitirá criar riqueza na região visando uma gestão ambiental orientada para que não seja reduzida a qualidade ambiental (...) 

Este conteúdo, transcrito do EIA em discussão, não possui qualquer valor informativo e de observação objetiva.  A sua “ligação” com o estudo de impacto ambiental do asfaltamento do caminho das Ginjas é nula. É mesmo absurda.


Para melhor elucidar a seriedade e solidez deste estudo de Impacto Ambiental, da tal empresa Gilililili da Costa da Caparica, e a título informativo e complementar, a abaixo enumeração e métrica, de conteúdos por tema deste estudo. 

Consideremos a seguinte distribuição:
  • 186 Páginas dedicadas à Obra Civil “Caminho das Ginjas”, desde a enumeração de caixas e ferramentas, o estaleiro, às técnicas de rapel para projetar “gunnit” num talude, passando por regras de segurança no trabalho, movimentação de terras em camiões, quantidades várias, preços de produtos e custos finais da obra. 
  • Um parágrafo sobre o impacto socioeconómico da obra, seguido de 51 Páginas de transcrições de legislação e repetição de descrições já incluídas noutras partes do documento.
  • 71 Páginas com diversos estudos resumidos e comentários generalistas sobre acústica, partículas, poeiras, enumeração de património ao longo e ao lado do caminho, algumas considerações e cálculos sobre a paisagem, com referências a standards desconhecidos ou pouco usados e uma que outra consideração sobre sinalética rodoviária e de informação ecológica. 
  • 165 Páginas de Anexos titulados por várias empresas, uma delas a titular dos estudos do PDM de São Vicente, versando temas sobre Geologia, Atividade Telúrica, Pluviosidade… etc. 

Um dos anexos analisa a relação entre as agressões e perigos para a Floresta Laurissilva e os trabalhos da obra. Enumera conceitos e generalidades, observa as dinâmicas críticas da intervenção física da obra, mas não aprofunda nem recorre a dados específicos relacionados com a conservação e manutenção da integridade da Floresta Laurissilva e do Caminho das Ginjas. Acompanhando a prosa, um farto conjunto de fotos (dezenas) e mapas, etc.

O documento é volumoso mas acaba amorfo e sem conclusão. (tão estranho)
  • Mas só 32 Páginas dedicadas a Fauna e a Flora da Floresta Laurissilva existente ao longo do percurso do Caminho das Ginjas e seus impactos. 
  • E meras 6 Páginas com parágrafos longos de escrita repetitiva e que representam as conclusões finais do Estudo.
Que absurdo!!!

Na parte final do estudo surge, com todas as letras, uma afirmação poderosa, mas claramente despropositada, se considerarmos que a analise e decisões finais sobre o estudo ainda estão por acontecer. É convicção absoluta do signatário do EIA a seguinte afirmação:

A Declaração de Impacte Ambiental (DIA) que será emitida no âmbito deste Projecto …” 

Será que esta garantia, de que o resultado da avaliação é positivo, não é indicadora de alguma perversão de procedimentos e de “atropelo” à legislação?

E o Governo pagou 90 000 € por esta prosa imprestável e cientificamente inútil. 

Este foi o último episódio mas regressarei se houver novos motivos.

Leituras recomendadas:

- Episódio 1: O esquema do meia-vaca!
- Episódio 2: O especialista em Sapateado, Florestas e Ginjas
- Episódio 3: É para se fazer (Ginjas)
- Episódio 4: A Elite das Florestas e sua Selvagem Batonete apresentam ...
- Episódio 5: Episódio 5: A Parodia do Regedor e dos seus encardidos partidários
- Episódio 6: Os Sábios Cientistas-Lenhadores de Lisboa ...
- Episódio 7: Quem te manda sapateiro tocar rabecão
- Episódio 8: O Jagunço e a sua Cavalgadura
- Episódio 9: A jóia da coroa

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Quinta-feira, 4 de Março de 2021 02:02
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