Dossier da Insuficiência


A RTP Madeira tem no ar um programa que, como tanto outros, noutros canais, funciona no modo tertúlia ou comentário político sob a moderação de Gil Rosa são convidados outros jornalistas. Refiro-me ao “Dossier de Imprensa”. Gostaria de comentar o programa emitido no passado 19 de fevereiro em que se abordou, entre vários outros temas, a tão famigerada “Estrada das Ginjas” (Ep. 7 - 19 Fev. 2021: https://www.rtp.pt/play/p8414/e525847/dossier-de-imprensa-2021). 

Neste tipo de programas, o ponto fundamental é a preparação dos convidados sobre os temas abordados. Sobre esta questão, faço um reparo. Abordar a situação do Marítimo e do Nacional é um absurdo, pois para isso já existem programas desportivos, no próprio canal, como por exemplo o “Prolongamento”. Foi um desperdício de tempo logo no início da emissão!

Quanto à preparação dos convidados, deveriam estes ser rigorosos tanto quanto à escolha dos temas da actualidade, como ao seu conhecimento. Falar só por falar não cativa nem esclarece o telespectador. A modo de exemplo, diz Mário Gouveia (TVI) sobre a acessibilidade da Estrada das Ginjas: 

Melhorar a estrada para que a tua mãe Jorge, a minha mãe, também poderem passar naquela estrada e ver a Laurissilva”.

Isto é um debate sério? Será que o Mário Gouveia sabe que a Floresta da Laurissilva pode ser observada directamente em, pelo menos, 5 parques florestais (Chão dos Louros, do Pico das Pedras, das Queimadas, do Ribeiro Frio, do Montado do Pereiro)? Qualquer destes pontos é acessível a pessoas com mobilidade reduzida, sem necessidade de “betonizar” mais um acesso e gastar 12 milhões de euros. Será que todos, incluindo as mãezinhas dos referidos jornalistas, alguma vez tiveram interesse em visitar a Laurissilva? Eu nunca fui ao monte Evereste e, aos quarenta, já não me parece que tenha o vigor necessário para fazer a dita escalada. E como eu muitos milhões de pessoas, mas não me parece que nenhum dos países que partilham os Himalaias alguma vez irão construir uma estrada até ao referido pico.

Segundo Mário Gouveia e Jorge Sousa, a maior parte dos pareceres apresentados durante o período de discussão pública do Estudo de Impacte Ambiental Caminho das Ginjas – Paúl da Serra, são de ONGAs continentais, nem sequer são da Madeira mas, então porque é que se pediu à UNESCO que declarasse a Floresta da Laurissilva Património da Humanidade, se afinal de contas a UNESCO não é madeirense? Não saberão os referidos jornalistas, que as referidas ONGAs, no geral têm delegações na Madeira? Não saberão os jornalistas que nestas ONGAs também trabalham madeirenses? E que alguns dos investigadores que participaram nos pareceres realizaram muitos trabalhos na Laurissilva que contribuíram para que esta fosse classificada como Património Mundial Natural da Unesco? Podemos concluir que os grandes especialistas na Laurissilva não têm porque residir na Madeira!

Dizia um dos intervenientes, que era como se na Tailândia houvesse uma questão e se pronunciasse alguém de fora … Pois olhe, ao lado da Tailândia está a Birmânia e saiba que eu já me pronunciei num abaixo assinado contra a actual junta militar, e é assim no actual mundo globalizado. O que ocorre na Floresta da Laurissilva não diz respeito a São Vicente, à Madeira, ou a Portugal, é assunto de todos! 

Aliás, seguindo essa regra, que os ditos jornalistas preconizam e como, pelo menos dois, residem no Funchal, portanto não se deveriam pronunciar sobre um assunto que só diz respeito à freguesia de São Vicente. Eu percebo que a Câmara de São Vicente só pense no curto prazo (autárquicas à vista) e até queira ter em linha de conta mais uns votinhos dos vizinhos com casas no início do caminho da Ginjas. Porém, o interesse para o Turismo é o de um caminho aberto aos turistas (locais e estrangeiros) que o queiram percorrer a pé, o que gera mais riqueza do que o consumo de combustível num todo o terreno.

Estradas há muitas! A Floresta da Laurissilva não, é única! 

Os 12 milhões orçamentados numa região que, como recentemente foi noticiado, apresenta o maior número de pobres no país não me parece que seja algo necessário e urgente. Aliás, 12 milhões de euros com as derrapagens, como dizia o engenheiro, é só fazer as contas … 

Um dos objetivos do projeto é dinamizar o turismo e o tecido económico da região. Mas a realidade demonstra que os turistas que nos visitam pelas nossas paisagens naturais e pela Floresta Laurissilva não estão interessados em percursos alcatroados. Preferem antes trilhos, levadas e percursos panorâmicos até mesmo por outros relacionados com a história, herança e cultura do povo Madeirense.

PUB: dê LIKE na nossa página do Facebook (link)
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 4 de Março de 2021 00:33
Todos os elementos enviados pelo autor.

Nota: O engraçado é que o argumento de Mário Gouveia foi mesmo foi usado pelo Presidente da Câmara de São Vicente, atiçando maus instintos básicos com o intuito de dividir para reinar e se desfocar da natureza.