Calado de "rebendita"

D iz o povo que para «palavras loucas, orelhas moucas». Mas o povo já não tem razão neste dito popular e andamos, dia sim, dia sim senhor, a ser bombardeados com as loucuras que chegam de todas as partes do mundo. 

Por isso e mais do que nunca é importante dar atenção às tais «palavras loucas», na tentativa – provavelmente vã – de semear a dúvida, de fazer com que se perguntem sobre se tal afirmação corresponde mesmo à realidade.

O nonsense ganha terreno de uma forma assustadora, espalhando-se perigosamente, alimentando-se da fraca capacidade de raciocínio das suas vítimas que são utilizadas apenas para tomar partido. Nunca questionar. Nunca pensar. Nunca duvidar. Nunca compreender.

Vem esta introdução a propósito da entrevista que o actual vice-presidente do Governo Regional concedeu ao Jornal da Madeira no dia 12 de Março. Depois de andar semanas a aparecer constantemente na comunicação social – faz parte da estratégia de quem está a perseguir um objectivo – Pedro Calado decidiu acabar com o mito fabricado de forma descarada e anunciou que sim, que está mesmo, mas mesmo interessado na presidência da Câmara Municipal do Funchal. Julgava eu que depois das suas experiências no sector privado e agora na vice-presidência de um Governo Regional, Pedro Calado revelasse nesta entrevista que no topo das suas razões acalentava esse ardente desejo de ser autarca por motivos nobres, de entrega à causa pública, ao amor ao Funchal e aos funchalenses, porque o facto de ter sido vice-presidente da Câmara afinal seria melhor do que a vice-presidência de um Governo. Ou então, na pior das hipóteses, Pedro Calado escolheria SER AUTARCA porque, de facto, ser vice-presidente de um Governo com tantas responsabilidades e com tantas pastas, é uma grande chatice e mais vale ter um “quintalinho” mais reservado, mais pequeno para concentrar as suas capacidades no PENSAR LOCAL, em vez do PENSAR GLOBAL. 

Com natural curiosidade, procurei a entrevista para ler os argumentos que sustentam tal mudança de vida e logo no segundo parágrafo do texto estão elencadas as principais razões da sua candidatura. Afinal, Pedro Calado candidata-se à Câmara do Funchal de rebendita porque acha que os socialistas andam nervosos, porque há anónimos que, segundo diz, fazem calúnias nas redes sociais e nos blogues e porque – espantem-se – anda por aí uma campanha «muito baixa» «camuflada com pessoas nas redes sociais que nem sequer existem». Portanto, o senhor Pedro Calado candidata-se porque o PS anda nervoso e, tal como o D. Quixote e os moinhos de vento, vai para a frente com a candidatura para contrariar fantasmas, as tais pessoas «nas redes sociais que nem sequer existem».

Ora, se isto não é de bradar aos céus, então o que poderá ser?

Senhor Pedro Calado, não defendo com unhas e dentes o anonimato, mas vivemos tempos perigosos, em que continuam as retaliações sobre quem diz o que pensa. Vocês prometeram – ou fizeram crer – que esse tempo tinha chegado ao fim com a renovação, mas não é verdade. As redes sociais – pau de dois bicos – permitem que as pessoas se expressem e passem a sua mensagem sem medo, por exemplo, de perder o emprego. As redes sociais dão voz àqueles que não são suficientemente “importantes” para aparecer nos jornais ou nas televisões e esses também têm algo a dizer, algo a contar, algo a opinar. Ninguém os ouvia. Ninguém queria saber. Ninguém os deixava falar. 

Os tempos mudaram. E esses anónimos ou gente que nem sequer existe são de todos os lados, de todos os partidos, de todas as facções.

Andamos todos nervosos. O seu partido também anda nervoso e creio que nesta entrevista, o senhor tentou projectar nos socialistas aquilo que se passa no seu próprio PSD. A sua candidatura contra os moinhos de vento aparece devido ao vazio vergonhoso em que caiu o PSD-Madeira, um partido incapaz de gerar, formar e lançar candidatos vencedores. A sua candidatura à Câmara do Funchal aparece porque o seu PSD não tem opções e, uma vez mais, tira uma pessoa do Governo Regional para enviá-la para umas eleições autárquicas. O seu PSD está tipo múmia, amarrado, cheio de ligaduras e nervoso. Quem teve ou tinha valor, afastou-se ou foi afastado. Quem tenta manter a cabeça à tona da água e dar o seu contributo, ou é ignorado ou afunda-se. O PSD corre sérios riscos de se transformar num minúsculo CDS, ou seja num clube exclusivo com e para alguns – o bando, a tribo – incapaz de voltar a reactivar e de se assumir como a escola de referência que abandonou. 

As suas prioridades estão invertidas e isso está bem demonstrado na entrevista. No segundo parágrafo fala do tal nervosismo e das pessoas que não existem e só no final do texto é que tenta tocar violino ao falar da sua enorme vontade de tirar a cidade de um certo marasmo e vazio. Adjectivos irónicos, não é verdade?

Se isto não é motivo para ter um ataque de nervos, então o que é?

Enviado por Denúncia Anónima
Sábado, 13 de Março de 2021 12:30
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