Hospital: casa de ferreiro, espeto de pau.

 

Esta opinião e alerta não põem em causa o grande respeito e consideração que merecem todos os profissionais de saúde por parte de toda a população, sempre, e principalmente nesta fase. 

H á poucos dias, surgiu uma reportagem no JM sobre as condições de (in)segurança dos profissionais da Saúde (não “de” Saúde!) do SESARAM, em concreto sobre a decisão de não por em pratica as ordens claras do Conselho de Governo sobre a organização dos Serviços. em jornada contínua, equipas em espelho ou outros esquemas de rotatividade e teletrabalho, para reduzir o número de pessoas nos locais de trabalho. As opções apresentadas pelo Senhor Presidente foram várias e permitem a cada instituição salvaguardar o funcionamento do serviço e a saúde dos trabalhadores e das suas famílias.

A Resolução tem aplicação explícita aos organismos do setor empresarial da Região, onde se encontra o SESARAM. É bom dizer ou lembrar que ali também trabalham uns seres que não são profissionais de saúde, mas que também merecem respeito e cuja segurança e bem estar também devem ser garantidos por quem “manda”. Daí que, justificar a decisão interna que está em vigor, generalizada a toda a casa, com os argumentos de que um médico não pode dar uma consulta em teletrabalho, ou que um secretariado de apoio também não pode fazer o seu trabalho em teletrabalho, parecem justificações caricatas e desadequadas, quase uma ofensa à inteligência do pessoal e são uma interpretação distorcida e conveniente, mas não convincente, da regra clara como água do Conselho de Governo:

Reduzir ao nível mínimo e indispensável o trabalho presencial na Administração Pública, devendo todos os organismos da administração direta…e do setor empresarial da Região reduzir a presença física de trabalhadores nos organismos da administração pública ao pessoal essencial ao seu funcionamento, em regime de serviços mínimos, no cumprimento dos seguintes pressupostos (…)

É óbvio que os profissionais de saúde estão fora desta “regra”, é óbvio que é necessário garantir que os serviços de apoio àqueles profissionais funcionam e prestam o apoio necessário, e para isso não é necessário estar tudo ao mesmo tempo a trabalhar como se nada se passasse, mas também é óbvio que existem serviços no SESARAM, que são idênticos a tantos outros serviços do Governo Regional, que se reorganizaram seguindo as várias alternativas que o Senhor Presidente do Governo Regional apresentou.

Existem diversos serviços no Hospital Nélio Mendonça em que os funcionários estão todos a trabalhar em simultâneo, nos mesmos espaços de sempre, com grande número de salas e gabinetes na mesma área, com horário rígido (9 às 5), nem sempre com o distanciamento desejado e falado, em que não existe possibilidade de ventilação natural dos espaços, em que o uso das máscaras fica ao critério de cada um e em que existe um receio geral de falar, expressar preocupação e desacordo aos chefes, falando tudo à boca pequena e pelos cantos e recantos. A situação é incompreensível, ainda por cima espaços de trabalho que estão situados na localização física onde estão (sim, porque para todos os efeitos aquilo tudo não deixa de ser um Hospital, em salas/gabinetes/corredores de edifícios anexos ao principal e onde entram e saem muitos profissionais de saúde, utentes, etc)  para além dos que trabalham lá.Tudo isto merecia atenção de quem de direito.

Vir dizer também que a prioridade tem sido a proteção dos profissionais de saúde era excusado, quando a proteção dos outros grupos profissionais também deveria ser uma preocupação. Ainda por cima dá para fazer isso ao abrigo da lei do GR, e aliás, é OBRIGATÓRIO fazer isso! Ou devia ser. 

Só falta mesmo saber qual será o plano se aparecer (se é que já não apareceu) um caso positivo em algum desses serviços administrativos? Vai tudo daquele setor para casa em vigilância? E aí então, se estiverem todos a trabalhar ao mesmo tempo, como estão, no mesmo horário, quem vai fazer presencialmente o trabalho, tão importante, indispensável e inadiável, que agora não permite dividir as equipes?? Se calhar mantêm toda a malta lá, na mesma, e pedem para estarem atentos aos sintomas …

Vários responsáveis desta Região dizem e pedem tantas vezes a que todos sejam “agentes de saúde pública”!?! Sim, sim, mas poucos, e só conforme calha. Ah, e nada de “chico-espertices”.

Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 28 de Janeiro de 2021 19:05
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