Vozes de Burros não chegam ao céu.

 

A ntes que alguém mais suscetível se melindre com o título deste texto, esclareça-se que “Vozes de burro não chegam ao céu” é um conhecido provérbio português, que se aplica a quem diz alguma coisa sem qualquer credibilidade ou fundamentação.

Já todos nos apercebemos que Pedro Calado é um político muito pouco preparado para lidar com a imprensa e costuma cometer muitos erros quando abre a boca e isso viu-se aquando da visita às obras de reabilitação das ribeiras do Funchal, onde referiu que “Choveu mais do que no dia 20 de fevereiro e as ribeiras portaram-se muito bem (…)” e, não satisfeito com o que disse, ainda acrescentou que “cerca de dois terços do material que provavelmente podia descer as ribeiras, como aconteceu no 20 de fevereiro, foi agora consolidado e retido a montante”.

Decididamente, Pedro Calado não tem culpa nenhuma das asneiras que diz, pois acredita em tudo o lhe dizem, o que demonstra que é tecnicamente muito mal assessorado. Mas se Pedro Calado demonstrou nesta história que é apenas um político mal preparado, o mesmo não é admissível de Pedro Fino e da sua equipa técnica que parecem nem ter lido o EARAM- Estudo de Avaliação de Riscos de Aluviões (link) e encontraram nos 10 minutos de chuva uma oportunidade para justificar os 35 milhões gastos nas asneiras das obras efetuadas nas ribeiras.

Mas vamos aos factos que despoletaram a confusão. A 30 de novembro, uma estação climatológica do IPMA, registou num intervalo de 10 minutos 19.1 litros por metro quadrado, o que levou o responsável do IPMA a reconhecer que provavelmente choveu mais em 10 minutos do que no 20 Fevereiro. Primeiro, qualquer técnico percebe que o Doutor Vítor Prior estava-se a referir ao intervalo de 10 minutos e não a toda à totalidade da precipitação caída até ao 20 de Fevereiro de 2010 que potenciou a Aluvião.


E se tal já não fosse suficientemente explícito, o mesmo IPMA informou que o nível atingido esteve circunscrito ao Chão do Areeiro, pois as restantes estações do IPMA do Pico do Areeiro, Pico Alto, Monte, Santo da Serra e Santana registaram valores muito inferiores e normais para a época.

Em segundo, e ainda mais absurdo, os caudais obtidos das três ribeiras do Funchal, com ou sem obras, nunca poderiam transportar o material sólido do 20 de Fevereiro, por isso os tais dois terços retidos só pode ser uma invenção de alguém que não percebe de engenharia civil.

Sobre a pluviosidade dos 10 minutos o EARAM refere um registo de 24.6mm em 10 minutos no 20 de fevereiro, portanto acima dos 19 registados a 30 de novembro e ainda que os caudais das ribeiras do Funchal no 20 de fevereiro estiveram acima dos 200m3/s incomparáveis com os estimados 20m3/s do dia 30 de novembro, por isso é intelectualmente desonesto afirmar que 2/3 do material sólido ficou retido.

As aluviões na Madeira não são provocados por dez minutos, uma hora, ou um dia de chuva, mas sim por um acumular de fenómenos meteorológicos e geomorfológicos amontoados ao longo de meses. E não é por acaso que o Doutor Victor Prior do IPMA afirmou em 2012 que "quando foi no 20 de fevereiro já tinha começado a chover no fim de dezembro e choveu durante dois meses, quase contínuo, era quase dia sim, dia não”.

Assim sendo, a continuar a chover, o mais provável é que em fevereiro de 2021 as “ribeiras não se portem tão bem” como o Dr. Pedro Calado quer.

É uma pena que assim, graças a um site não pago pelo GR,
se acabe com a alternância de uma página heróica por dia, nos jornais da região,
para converter-se no único capaz de ser Presidente da RAM num futuro,
Deus nos livre!

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Enviado por Denúncia Anónima
Domingo, 6 de Dezembro de 2020 21:43
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