Estudo de Impacte Ambiental para encher chouriços.

 

P rimeiro, e antes de tudo, confesso que não sou geólogo, biólogo, engenheiro ou advogado e talvez por isso não consegui ler tudo porque deu-me engulhos. O Relatório Síntese do “Estudo de Impacte Ambiental Caminho das Ginjas – Paúl da Serra” é uma estopada de 371 páginas intragáveis, isto sem contar com os inúmeros e desinteressantes anexos.

Segundo, e como não gosto de perder tempo com ninharias eufemísticas, fui logo para as fantásticas conclusões do EIA (da página 365 à 372) que é o que interessa em todos os Estudos.

E pasme-se! As conclusões corroboram que os impactes negativos “são, genericamente, pouco significativos e temporários” e resumem-se à fase da construção, mas já os impactes positivos são inúmeros e de bradar aos céus, tais como “desde o combate eficaz a incêndios, à fixação de famílias, incremento do turismo, intercâmbio comercial, social e cultural”.

Comecemos pelo combate eficaz aos incêndios que parece ter sido inventado à última da hora. Como é sabido, o projeto prevê a instalação de uma rede de bocas-de-incêndio e de rega. 

Incêndio? Que eu me lembre, não há histórico de incêndios naquela zona pelo que cai por terra esta pretensão, é que os Bombeiros de São Vicente poderão utilizar a via para transportar água e apagar incêndios florestais noutros locais. Sim, seria uma boa ideia se o Paul da Serra não tivesse já uma lagoa e a maior reserva de água que se conhece. O mais provável é que com a estrada das Ginjas os incêndios comecem a surgir.

Rega? Para regar o quê? Os folhados ou a carqueja? E a ARM foi consultada? Se calhar os terrenos agrícolas das Ginjas? E a rede de rega estruturalmente acompanhará as inúmeras curvas da Estrada das Ginjas? Isto é simplesmente hilariante!

Tirando os incêndios, os restantes impactes positivos resumem-se à economia e à criação de emprego no concelho de São Vicente. E quantos empregos vai criar a estrada? Dois? Três? E se pegassem na porcaria dos 9 milhões e investissem no tecido empresarial de São Vicente não daria melhores resultados? Sinceramente a população de São Vicente merece mais.

E no fim das conclusões, para não se dizer que concordam com tudo, o relatório recomenda que uma parte da estrada seja em pedras de basalto e, ainda como recomendação, que seja monitorizada a Qualidade do Ar e o Ruído. Se é tudo positivo, porque é preciso monitorizar?

Nitidamente todo o Relatório é um exercício académico de como encher chouriços e se dúvidas houvessem, o exemplo do parágrafo “Por outro lado, O Sr. Eng.º Rocha da Silva no ano de 1983 promoveu a abertura de uma vala de drenagem (…)” é exaustivamente repetido cinco vezes, nomeadamente nas páginas 5, 12, 55, 280 e 367.

Como uma aberração nunca vem só, os autores insistem em copiar e colar exaustivamente parágrafos inteiros como:

"Ao permitir que sejam criados novos postos de trabalho, a beneficiação do caminho “Ginjas-Paúl da Serra” contribuirá para a estabilidade demográfica, bem como, para a dinamização da actividade económica local e regional. Deste modo, a beneficiação do caminho Ginjas-Paúl da Serra, terá um impacte muito significativo ao nível da aproximação das povoações, à dinamização do tecido económico na região, bem como no combate a incêndios e na salvaguarda da circulação em perfeitas condições de segurança”

... que foi repetido três vezes nitidamente para encher páginas.

Uma pequena nota final, para a inocente referência bibliográfica à tese de Doutoramento da Secretária Regional de Ambiente que ficou fofo no Estudo de Impacte Ambiental.

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Enviado por Denúncia Anónima
Quarta-feira, 30 de Dezembro de 2020 11:43
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