As 10 medidas de Albuquerque

 

H oje os únicos cinco jornalistas idóneos ainda vivos que escrevem no Correio da Madeira levantaram-se às 4H30 da manhã para se prepararem para Conferencia de imprensa do Querido Presidente sobre as novas medidas do Governo Regional no combate à pandemia da COVID-19. 

Às 9H30 tomaram o pequeno-almoço no Café do Teatro onde foi servida uma chinesa, duas torradas com manteiga, bacon, ovos, salada de fruta e um bilhete manuscrito com bocas para o Governo Regional oferecido pelo empresário Dário Silva. 

Às 10H30 dirigiram-se de trotineta elétrica para a Quinta Vigia para conseguir arranjar estacionamento visto o parque de estacionamento alugado pelo Governo estar cheio há mais de mês. Chegados ao local foram recebidos por um empregado de lacinho e com uma máscara amaricada que informou que o Gel desinfetante tinha acabado mas que podiam desinfetar as mãos na taça da água da querida Sissi.

Depois, o ainda Assessor de Imprensa da Presidência recebeu os jornalistas com o seu sorriso parolo e aproveitou os momentos de descontração para contar duas anedotas de Profetas que lhe provocou o riso solitário.

À hora certa entrou o Presidente com um ar austero ostentando uma fita métrica na mão e acompanhado pelo Sr. Secretário da Saúde que muito ofegante, cansado e a custo conseguiu caber na cadeira e sentar-se.

O Presidente do Governo começou por anunciar que a primeira medida seria decretar o fim imediato do Natal e acrescentou que o Governo vai proibir de imediato o Pai Natal de circular entre chaminés dos madeirenses sem três testes negativos pagos pela Lapónia.

Logo a seguir o Presidente anunciou que a segunda medida foi uma ideia inteligente do Sr. Secretário Regional da Educação que decidiu isentar os alunos das escolas da Região de fazerem quaisquer testes COVID-19 porque, como toda a gente sabe, caso tenham dois testes negativos podem chumbar o ano escolar e que isso estragava as estatísticas.

O Presidente anunciou depois que o Governo Regional iria alterar a data do fim-de-ano, porque segundo o inteligente Sr. Secretário do Turismo se chegarem muitos Turistas depois de 15 de dezembro que tenham de ficar em quarentena, ficam impedidos de ver o fogo a 31 de dezembro e, por isso, o Governo decretou que a passagem do ano será agora a do calendário chinês, isto é, a 12 de fevereiro de 2021 para que assim todos possam usufruir do magnífico fogo-de-artifício do ano do Boi.  

Completamente convicto do que estava a dizer, o Presidente com aquela voz autoritária que se lhe reconhece, acrescentou que em vez do fogo-de-artifício concentrado, o Governo decidiu enviar por correio para cada madeirense um foguete e uma caixa de fósforos, para que à meia-noite de 12 de fevereiro 2021 lancem os foguetes e apanhem as canas dentro de casa.

Entusiasmado pelo que acabou de dizer, anunciou depois que não haveria noite do mercado e que a pedido do Carinha de Bebé do Sr. Secretário da Economia, a carne vinha-de-alhos, as ponchas e as massarocas só serão permitidas em take-away e serão distribuídas em exclusivo pela UBER EAT por 2.5€ + IVA, e que já mandatou a ARAE para fiscalizar as entregas.

Sem sequer tomar fôlego o Presidente anunciou que a sexta medida, doa a quem doer, é que no fim do ano não haverá Réveillon de borla no Lobo-marinho, o que provocou o imediato protesto dos jornalistas do Diário e do Jornal da Madeira que saíram da conferência amuados porque o patrão não ia gostar.

Como sétima medida, o Presidente acrescentou que devido ao estado alterado do mar previsto pelo IPMA, não haverá navios de cruzeiros no fim do ano, mas que em contrapartida o tosco de Câmara de Lobos ofereceu-se para trazer os Xavelhas (sim, Sr. Chefe de Redação, o barco “xavelha” escreve-se com “X”) cheios de gambiarras de Natal para iluminar a baía.

Quinze minutos depois e já agastado pela longa conferência, explicou que o Governo não dará tolerância de ponto no dia 30 de novembro e 7 de dezembro porque já deu a tolerância do Rali que, como se sabe, foi um sucesso e que ainda vai dar a do sábado 26 e a do domingo 27 de dezembro.

O Presidente depois anunciou que o Governo decidiu disponibilizar uma “Apêpê” para telemóvel para que a população infoexcluída possa reservar um espaço de 4m2 na Praça do Povo para assistir ao Fogo de Artificio em segurança. O Presidente adiantou que a “Apêpê” está preparada para detetar os bêbados que serão imediatamente detidos e atirados do cais 8.

Por fim, e visivelmente eufórico, o Presidente anunciou que a décima medida seria a regionalização imediata do Correio da Madeira de modo a garantir a liberdade de imprensa na Região antes do Natal.

Terminada a conferência os ainda jornalistas do Correio da Madeira questionaram se o Presidente iria abanar o capacete no Réveillon no Savoy Palace até às quinhentas da manhã, ao que ele retorquiu visivelmente irritado que não respondia a provocações da escumalha ressabiada do Correio da Madeira.

A conferência terminou, o Presidente e os jornalistas saíram, e na sala ficou apenas o Sr. Secretário da Saúde a tentar se desentalar da cadeira.