A manhã, às 16h00, ocorrerá um protesto silencioso em frente à Secretaria da Agricultura e Desenvolvimento Rural contra a pavimentação da Estrada das Ginjas, confirmada por declarações de Humberto Vasconcelos no dia do Concelho de São Vicente. Será entregue uma solicitação de reunião.
Parece cínico que no passado ano o Governo Regional festeje 20 anos do reconhecimento mundial da Laurissilva e que um ano depois queira pavimentar uma estrada no seu interior.
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"Este dia está também assinalado pelo marco de ter sido a 15 de Setembro de 2019, a nossa primeira manifestação de desacordo nesta matéria com a realização da primeira manifestação contra a asfaltagem da Estrada das Ginjas, um evento que contou com mais de meia centena de pessoas no local.
Nós somos um grupo de cidadãos madeirenses que se tem manifestado publicamente contra a pavimentação da estrada das Ginjas. É do conhecimento da opinião pública que a Floresta Laurissilva foi elevada a Património Mundial pela UNESCO em 1999, e é uma área protegida segundo as directivas europeias da Rede Natura 2000, desde 2007. É a única reserva natural em Portugal com este galardão conferido pela UNESCO.
Existem leis regionais, nacionais e europeias que têm de ser cumpridas e justificadas consoante algum tipo de infracção, não podemos levar estes incumprimentos de ânimo leve.
As razões para a pavimentação da estrada são dúbias e carecem de especial atenção por todos nós, sobretudo quando se aguarda (im)pacientemente um EIA há mais de 1 ano.
Na verdade, a estrada chegou a ser uma promessa eleitoral de Alberto João Jardim, mas o projecto havia sido abandonado exactamente porque a zona foi salvaguardada por todas estas certificações atribuídas à nossa floresta, atestando o seu carácter único, frágil e insubstituível.
Desde então, temos trabalhado activamente para impedir a sua execução e é neste sentido que decidimos escrever-vos. Em anexo segue documento com pequeno resumo cronológico onde referimos pessoas, entidades, directivas da UNESCO e citações do Plano de Gestão e Ordenamento da Laurissilva, tal como outros factos relativos a este assunto, e queremos convidar-vos a debruçar-se atentamente sobre esta nossa demanda, na esperança de amanhã nos poderem dar atenção no acompanhamento nesta luta que é de todos, contra a grave ameaça a que está sujeita a nossa floresta Laurissilva.
A nossa intenção ao vos dirigir este email é expor as incongruências na gestão deste património regional, e mundial, único que é a Floresta Laurissilva da Madeira e lançar um apelo para que façam uma investigação e exposição nos órgãos de comunicação nacionais, nomeadamente no vosso programa. A construção desta estrada está a par com outros atentados ambientais que se perpetuam nesta região e que, apesar de constantes manifestações de oposição de associações, ONGs e populações locais, continuam a imperar. A sobreposição do turismo e da indústria da construção em relação à preservação dos espaços naturais é contrária aos movimentos mundiais que cada vez mais, e com mais força, apelam à mitigação do impacto do homem nos últimos redutos de natureza selvagem. Nenhuma acção humana é isenta de consequências e as justificações que nas quais baseamos os nossos actos não devem sobrepor- se ao bem comum. A floresta Laurissilva é um ecossistema inerente ao ecossistema humano e jamais deveria ser vista como um produto a explorar. É através das suas folhas, árvores, raízes e animais que se perpetuam ciclos naturais que permitem a vida e, sendo visíveis ou não, devemos garantir a sua continuidade.
Não devemos cair na falácia que a estrada servirá como corta-fogo pois a existência de uma estrada não evitará a passagem das chamas e em última análise só facilitará o acesso de subprodutos humanos, externos ao sistema natural, que poderão facilitar a deflagração de fogos. A construção de um acesso agrícola nos primeiros 1100m de estrada é uma necessidade válida das populações locais e que deve ser tomada em conta, mas em nada justifica a pavimentação da totalidade do caminho que eventualmente penetra num ecossistema frágil que deveria ser protegido.
É também relevante perguntar onde estão as acções de educação para a protecção da floresta financiadas pelo GR, e até referidas no Plano de Gestão e Ordenamento da Laurissilva? Estarão as verdadeiramente sensibilizadas para a fragilidade do ecossistema e para a sua relação simbiótica com este? Será o turismo uma real fonte de rendimento para as populações locais? De que forma vão beneficiar directamente as populações? É preciso colocar as perguntas e desconstruir ideias pré-concebidas de ganhos financeiros e analisar os custos que estes teriam a longo prazo, quer no ecossistema, quer na vida destas populações que dependem directamente do bem estar da floresta. Ao analisar o Plano de Gestão e Ordenamento da Laurissilva (pág. 95) não encontramos nenhum plano de educação ambiental para as populações que residem perto da floresta. Como então construir pontes de benefício mútuo se não existe um investimento concreto na divulgação da sensibilidade ambiental e educação para a preservação?", pode ler-se no comunicado da organização do protesto."