Camacha: o passado para compreender o presente (integral)

  

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ecordo-me perfeitamente que na minha infância, a ainda aldeia da Camacha, era um ponto de referência para os madeirenses e turistas que massivamente visitavam a freguesia em virtude do seu espólio cultural, etnográfico, ambiental, social e desportivo. Para perceber o estado atual da Freguesia, há que primeiramente compreender o seu passado para posteriormente adotar as melhores estratégias para reerguê-la das “cinzas”.

No final da década de 80 e inícios da década de 90, o Governo Regional da Madeira (GRM) inicialmente queria promover a construção de uma vacaria no sítio da Nogueira, tendo sido esta vetada pela maioria da população da altura, decisão que nunca foi bem digerida pelos membros do GRM da altura. Como consequência, deliberou-se a construção de um bairro social sem um adequado projeto de inclusão social para todos aqueles que ali viriam a viver. Hoje em dia, o mesmo está com um avançado estado de degradação, ao qual a entidade responsável pela sua gestão continua a desviar o seu olhar. Ao lado deste bairro social, o GRM construiu em 1996 uma Biofábrica de Moscas, profetizando-se como um projeto único na Europa, tendo sido desativado em novembro de 2011, por decisão do GRM, tendo o mesmo ofertado os respetivos equipamentos à Biofábrica Moscamed (Juazeiro, Brasil) em 2016.

Em setembro de 1993, inaugurou-se a Escola Básica do 2.º e 3.º Ciclo Dr. Alfredo Ferreira Nóbrega Júnior, um investimento necessário que veio evitar a deslocação da população escolar a outra freguesia para frequentar os respetivos ciclos de estudo.  O Pavilhão Gimnodesportivo adjacente à escola torna-se impraticável quando o nevoeiro assola a freguesia. A meu ver, parece-me que trocaram os projetos deste pavilhão com o existente ao lado da Escola Secundária Gonçalves Zarco. Atualmente, em virtude das condições climatéricas da Camacha, seria de bom senso que o GRM investisse, pelo menos, na cobertura do Polidesportivo Exterior por forma a que os alunos desta escola possam usufruir do mesmo em dias mais adversos. Este raciocínio aplica-se igualmente à EB1/PE da Camacha e à EB1/PE do Rochão (se algum dia voltar a ser ativada).

Nos anos em que o GRM, Câmara Municipal (CMSC) e a Junta de Freguesia (JFC) vestiam uma única cor (o que ocorreu até 2013 para os mais esquecidos), deliberou-se (e bem!) a construção de novas instalações para a Casa do Povo da Camacha (CPC), num projeto estruturado em duas fases de expansão, que geraram desde a sua génese imensos problemas (é curioso saber que a empresa que construiu o edifício já faliu). Atualmente uma das alas está fechada há mais de uma década e ostenta graves problemas estruturais, que carecem (urgentemente) de intervenção e solução. Face à riqueza histórica, cultural e social, dos grupos que compõem a CPC, estas instalações mereciam desde início um projeto mais ambicioso e adequado à funcionalidade de uma das Casas do Povo mais dinâmicas da Região. Será necessário esperar mais 10 anos para ver esta situação resolvida? A Camacha fica a perder!!!

Em 1999 inaugurou-se o Campo Sintético (a necessitar atualmente de reformulação, investimento previsto para médio prazo) no Complexo Desportivo da Associação Desportiva da Camacha, dando por terminado as deslocações dos jovens desportistas para fora da freguesia para treinos e jogos, bem como dos treinos no alcatrão ou nos polidesportivos existentes na Camacha. Neste evento, com pompa e circunstância, o GRM prometeu a construção de uma Piscina na freguesia, algo que só veio a ocorrer em julho de 2013 (14 anos depois!), sendo um investimento que beneficiaria a população da freguesia e ajudou a encher os bolsos aos amigos.

Em março de 2001, inaugurou-se o Camacha Shopping e doze anos depois o grupo investidor, em crise e extinção da marca, cedeu a exploração do supermercado ao grupo Sonae MC (Supermercados Continente). Pelo meio, surgiu a hipótese de ser criado, num terreno adjacente ao Largo Conselheiro Aires de Ornelas (localmente conhecido por Largo da Achada), uma superfície comercial, ao qual o Grupo Jerónimo Martins, através da sua cadeia de supermercados Pingo Doce, serviriam a população. A infraestrutura idealizada contemplaria um parque de estacionamento, resolvendo em parte um dos problemas (atuais) desta centralidade. Face a um pacto de “não agressão” realizado entre o Grupo Proprietário do Camacha Shopping, o antigo dono do terreno e o atual proprietário/empresário, o investimento idealizado nunca chegou a ser concretizado.

Acompanhando o restante desenvolvimento da Região ao nível das vias de trânsito, construiu-se, em 2003, a Ligação Rodoviária Caniço (Cancela) – Camacha, permitindo uma mais rápida ligação com outras centralidades, contrastando com as Estradas Regionais existentes que, ainda nos dias de hoje, aguardam por intervenção do GRM [a exemplo da ER203 – Carreiras (prometido mas não concretizado), pela ER102 (com o troço inacabado, penso que por falta de alcatrão, desde o Vale Paraíso ao Ribeiro Fernando), contrastando com a ER205 que está totalmente concluída]. A meu ver, estas estradas já mereciam um “tapete” novo há mais de 20 anos.

Em 2017, curiosamente uns meses antes das eleições, a Secretaria Regional da Inclusão Social e Cidadania (GRM) mandou pintar muros, paredes e fachadas, curiosamente propriedade dos “amigos” com ligação política ao partido do poder. Os restantes ficaram a ver a “banda a passar”. 



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m junho de 2018, inaugurou-se o Mercadinho da Camacha, investimento realizado pela autarquia de Santa Cruz, permitindo um espaço digno aos produtores agrícolas da Freguesia para comercializar e escoar os seus produtos. Foi dado o mote para a necessidade de requalificar todo o Largo Conselheiro Aires de Ornelas. Os camacheiros anseiam pelo início das obras, num investimento suportado pelo Município de Santa Cruz apesar das promessas públicas (que como sempre cai em saco roto) do Presidente do GRM, de que o mesmo ajudaria neste investimento na Freguesia (deve ter adormecido sobre o assunto, tal como já assistimos em diversos momentos durante o seu mandato). À semelhança do que mencionei sobre a cobertura dos polidesportivos das Escolas, os camacheiros esperam que a requalificação do Largo da Achada e, consequentemente, do polidesportivo ali existente, seja inserido numa estrutura coberta, permitindo desta forma a prática desportiva ao longo de todo o ano, bem como permitir o seu uso para outro tipo de atividades socioculturais, servindo de local alternativo à realização das demais iniciativas que existem na Freguesia ao longo de todo o ano, principalmente nas estações do ano mais chuvosas. Já estamos fartos de eventos cancelados, adiados e prejudicados por causa do mau tempo.

No ano letivo 2018/2019, por deliberação da Secretaria Regional da Educação, Ciência e Tecnologia a EB1/PE do Rochão foi desativada. Sabe-se que, em inícios de 2018, a CMSC solicitou à Secretaria a possibilidade de cedência de um espaço para a dinamização de atividades socioculturais de alguns grupos do sítio do Rochão. Em janeiro deste ano, a CMSC voltou a reiterar a sua vontade em proporcionar o espaço desativado aos grupos em questão. Tendo em conta que a SRECT nos anos de 2018 e 2019 estava imensamente atarefada para dar resposta à solicitação, apenas em fevereiro do presente ano é que se dignificaram a responder, ainda por cima de uma forma lacónica e sem garantias de resolver/responder aos anseios das instituições para a utilização dos espaços vagos da Escola. Ao que parece, a Secretaria está a equacionar em desenvolver um projeto de cultivo de bolor na infraestrutura ou algo do género.

Em janeiro de 2019, o GRM visita a nossa freguesia para averiguar as obras de requalificação do Centro de Saúde, afirmando que o GRM investe (humor negro do nosso GRM) na Camacha. Para além da requalificação das questões estruturais do edifício, parece-me que se esqueceram das questões funcionais do mesmo, pois continuam a faltar médicos e outros profissionais de saúde para servir a população (problema transversal em toda a Região).

Nestes anos, o posto dos CTT foi fechado e para benefício da população a Junta de Freguesia assumiu a prestação desse serviço, contudo num edifício que não estava (nem está) preparado proporcionar este serviço à população com o maior conforto e eficiência (mas há que compreender que foi a solução encontrada na altura). Contudo, há que voltar a equacionar novas instalações num outro espaço mais central, permitindo e facilitando o estacionamento daqueles que procuram estes serviços, bem como permitir um adequado acesso às pessoas com mobilidade reduzida. A população agradece!

A Esquadra da PSP fechou e apesar dos esforços do poder autárquico e da reivindicação popular, até os dias de hoje o Ministério da Administração Interna e Comando Regional parecem não estar interessados em solucionar esta pretensão do povo. Um investimento numa nova Esquadra, algures na zona da Cancela, parecer-me-ia uma excelente ideia pois, de certa forma, rentabilizávamos os dinheiros públicos e seria uma boa opção estratégica para solucionar as reivindicações populares da Freguesia da Camacha e Caniço.

Foi retirado inicialmente o Quartel dos Bombeiros (das atuais instalações da Junta de Freguesia) para que anos mais tarde voltasse a serem reintegrados numas novas instalações no Bairro da Nogueira. Sabe-se que as instalações construídas não estavam adequadas nem garantiam as condições mínimas exigidas para a corporação de Bombeiros desempenhar com excelência o seu serviço. Face a estas deficiências detetadas, bem como com a diminuição do número de efetivos, o Quartel voltou a ser encerrado. Atualmente, apesar de terem sido realizadas novas obras de melhoramento do espaço, a Camacha aguarda (im)pacientemente da decisão da Secretaria Regional da Saúde e Proteção Civil, com posterior articulação com a Proteção Civil Municipal em destacar um contingente para servir a população da Freguesia. Contudo, sabe-se que não existe de momento um número de efetivos mínimo que possa acautelar o respetivo funcionamento do Quartel (vamos aguardar pela conclusão dos próximos cursos de formação de bombeiros).

Pela evolução da sociedade e respetiva globalização, pelo envelhecimento da população e pelo desinteresse dos jovens, a indústria do Vime na Camacha está pelas horas da morte. Se nada se fizer nos próximos tempos, no espaço de uma década prospetivo a extinção desta arte. Há que (re)pensar e preservar esta arte pelo bem do nosso espólio cultural!


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tendendo ao número de grupos/associações que preservam a nossa etnografia, os nossos usos e costumes, a NOSSA IDENTIDADE CULTURAL, os mecanismos de apoio devem ser repensados e melhorados, acima de tudo pela Secretaria Regional do Turismo e Cultura, em sinergia com as Autarquias Locais.

Ao longo da História, a Camacha influenciou a calendarização das festividades na nossa Região. Destaco, para quem não possui este conhecimento, que foi na Camacha que se originou as bases para a realização do Cortejo Alegórico da Festa da Flor, bem como o Cortejo Trapalhão nas ruas do Funchal. Pelo meio outras excelentes ideias nasceram na Camacha, mas por motivos que se desconhece (ou não!) foram parar a outras localidades, nomeadamente o Parque Temático da Madeira (construído em Santana), o Festival “48 horas a bailar” (realizado em Santana), a construção do Fórum em Machico, entre outros.

A Camacha parou no tempo… não agora… parou no momento em que quem tinha os recursos (principalmente os financeiros) e poder político para adotar uma visão estratégica de desenvolvimento para a nossa Freguesia, NADA FEZ! Ao longo destes anos verificamos o enorme desenvolvimento de outras centralidades da nossa ilha. Nos tempos áureos de uma governação de maioria absoluta, onde o dinheiro e os fundos comunitários abundavam, em momento algum tiveram o discernimento de olhar pela nossa Freguesia. 

Os tempos evoluem, mas será que as pessoas também?! O Camacheiro defende a sua terra com unhas e dentes. O seu partido é a CAMACHA e um dos seus principais interesses é ver reconhecida a importância que a sua Freguesia tem no espólio Regional. Acredito que depois do adequado investimento público que tem que ser feito na Freguesia, tornando-se posteriormente numa centralidade atrativa para o investimento privado.

Acredito que todos os camacheiros juntos, despidos de interesses pessoais, comerciais, institucionais e políticos, pela nossa terra, pela NOSSA CAMACHA, conseguiremos elevá-la ao reconhecimento e desenvolvimento que merece, reivindicando uma simbiose profícua, equilibrada financeiramente e estratega entre o GRM, CMSC, JFC e as instituições existentes na freguesia.

Pela Camacha, SEMPRE!

PS: Muitos mais assuntos poderiam ser abordados para conhecimento geral da população. Mas isso ficará para outra oportunidade.