O Marítimo é a imagem da política regional.


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O futebol ao longo dos tempos foi perdendo chama em mim. Adorava ir ao futebol pela mão do meu pai. Havia exageros mas era do tipo bebida mais, ainda em garrafa de vidro ou piropos. Depois a dose foi aumentando, a formação era maior mas a educação menor. Um pai de família decente educava na semana e ao Domingo ensinava os palavrões todos aos putos. Comecei a achar que o futebol tinha deixado de ser uma escola de virtudes, um passatempo de Domingo (que até isso deixou de ser) para ser um local onde se resolvem frustrações, um lugar onde os "pequenos" do dia-a-dia se agigantam, com fanatismo, na única coisa em que conseguem ser grandes. Muitas vezes a única coisa de que sabem falar ao cacaséssimo.

Meu pai tinha um negócio e o conselho era ... se queres ajudar o teu clube, torna-te sócio mas nunca lhe vendas nada. Na altura já tinham fama de maus pagadores e foi piorando. Os anos foram passando e comecei a achar que o verdadeiro futebol se via na TV, nos grandes jogos de selecções ou finais europeias. Talvez porque a televisão só apresentava a parte bela do espectáculo mas, plenamente consciente de que tinha sido ela a reduzir o futebol domingueiro e estendeu pela semana por razões comerciais.

Hoje em dia, quando ouço falar de futebol, passa-me ao lado, penso que aconteceu a mais pessoas, longe vão os tempos das grandes assistências. Uns aborrecem-se pelo show dos dirigentes sempre a brigar, à corrupção; as doses bem servidas de comentários na TV, cheias de exageros; das fortunas que todos ganham para ir o zé povinho miserável se distrair. Pelo facto do coitado pagar para entrar no estádio, todo ele oferecido, e com uma equipa subsidiada. Se a pessoa vai para se distrair das injustiças do dia-a-dia, ao chegar ao futebol encontra-as na plenitude.

Também não vejo "dirigentes desportivos", vejo empresários do sistema, como que para controlar, como que chamados pelo dinheiro público, como que em busca do fanatismo dos associados para dar cobertura ao dirigente que é um safado empresarial. Ser dirigente desportivo parece que é um atalho para o céu, beatifica aos olhos do povo cego pelo futebol, tanto como aqueles que cegam com o seu partido. Ser dirigente desportivo é um acto de defesa, manipulação e ataque político.

Este Marítimo enferma de tudo isto e parece que faz as contas do Calado e do Albuquerque. Não tem muitos dias, este clube deu lucro e agora aparecem calotes de larga monta. Engenharia financeira. São gestores desportivos? Com tudo pago e a fazerem negociatas como empresários? Parecem os bancos, os lucros são para eles, as imparidades para o contribuinte.

O espectáculo desportivo foi superado pelo ruído e a ganância. Há muito boa gente a fazer uma vida acima das possibilidades do contribuinte que nada mais merece do que maus serviços públicos mas tem o futebol que alimenta as frustrações pois a alma foi vendida.

Enviado por Denúncia Anónima
Domingo 14 de Junho de 2020 15:53
Texto, link e título enviados pelo autor. Ilustração CM.