Fazer errado porque dá emprego
Favorecer os mesmos porque dá emprego
Acusar os de fora para criar apoio local
Acusar os de fora para criar apoio local
Deitar culpas aos de fora para cobrir incompetências próprias
Insultar como forma de argumento
Tudo é mentira, a comunicação social é Fake News
Os outros são inferiores porque a oportunidade são para os mesmos
Autoritarismo como forma de presença
Não respeito pela Lei como Robin dos Bosques com os pobres
Expedientes como grandes feitos
Virar o bico ao prego para limpar a imagem
Posturas, posses, fotografias e linguagem para engrandecer a figura
Linguagem de baixaria para se dizer do povo
Usar técnicas e formas populistas não faz um populista. É preciso mais. Mas a ideologia não conta.
O que é ser populista?
Paula do Espírito Santo salienta ainda o papel da comunicação social na construção de um projecto populista. “Um líder só é populista se os media lhe derem espaço, a sua construção faz-se pelos media”, defende, argumentando: “É a desconstrução do discurso do líder, que perpetua a sua mensagem mesmo que de forma negativa e crítica. O que somos hoje em democracia muito devemos aos media, mas acabam por dar visibilidade e transformam o fenómeno do populismo em bola de neve. Mas é um mal necessário, faz parte da democracia.” E exemplifica: “Trump usa os media que estão contra si. Ele é o centro e conduz a orquestra. Acaba por ser dominante”.
P ara um político ser considerado populista tem de reunir uma série de
características expressas nos conteúdos das suas propostas, mas também
na forma como são apresentadas. Nesta caracterização, “a ideologia não é
marcante, pode ser de esquerda ou de direita”, explica Susana Salgado,
investigadora do ICSTE, precisando que “o populismo é vazio e é
preenchido no momento, de acordo com as necessidades, podendo mudar”.
Santana
Pereira, investigador de ICS, explica que o “populismo na forma” se
concretiza por “uma excessiva simplificação do discurso, uma grande
agressividade na polarização da sociedade e o aperfeiçoamento de
mecanismos de comunicação”. E afirma: “Não vejo estas três
características nos líderes portugueses, não aos níveis trampianos ou
bolsonarianos.”
Já quanto ao conteúdo, Santana Pereira sublinha, que ele se baseia
“na dicotomia entre elite má e povo”. E Susana Salgado, acrescenta: “Uma
característica essencial no populismo é a dicotomia entre o nós e o
eles. Na extrema-direita, eles são os imigrantes, e na extrema-esquerda,
são os banqueiros, as elites privilegiadas”.
A “dependência da cultura da nação" e “a identificação com o espírito
da mãe pátria, com o conceito supremo de nação, que não explicam”, é
outra característica que funciona como “o fio condutor da sua acção,
apresentando-se como salvadores da pátria”, acrescenta a investigadora
do ISCSP. Uma terceira característica é “a falta de valores centrais”,
já que nos populistas, “os valores são expressos de forma vaga”. Mas,
refere, os populistas são também “vagos e limitados em termos políticos,
são pouco acessíveis a grupos de apoio, auto centram-se, não assumem
que têm colaboração de equipas”.
Outro traço central é que o
populismo é “a resposta em situações extremas de crise, os populistas
surgem para ordenar a nação e expurgá-la de grupos que dizem que fazem
mal à nação”, explica Paula do Espírito Santo, acrescentando uma última
característica: “Tende a ser altamente camaleónico. Tem a ver com cada
líder não há um modelo só. São líderes que se adaptam às circunstâncias.
As suas ideias podem até mudar em função das circunstâncias”.
Além
disso os líderes populistas são quase sempre carismáticos, diz Paula do
Espírito Santo, dando os “exemplos de [Marine] Le Pen, [Silvio]
Berlusconi e [Hugo] Chávez”. Susana Salgado afirma mesmo: “Os populistas
com carisma e resposta política de coerência e consistência, não são
loucos, são políticos que têm a capacidade de ler o que são as
ansiedades do eleitorado e dar resposta”. Mas adverte que “os populistas
não são todos carismáticos da mesma maneira, uns são mais que outros,
embora tenham sempre uma imagem forte.”
Da capacidade dos líderes populistas depende a “contaminação do
debate político pelo populismo, tanto na forma como nos temas”, salienta
Susana Salgado, frisando que “mesmos partidos que não o são, têm muitas
vezes estratégias que podem ser consideradas populistas ou recorrem a
temas”. A investigadora do ICS dá como exemplo o caso das últimas
eleições polacas, ganhas por um partido populista. “Na campanha, os
outros estavam de repente a debater os temas dos partidos populistas e a
utilizar as suas estratégias, porque não queriam perder terreno no
resultado eleitoral. Acaba sempre por haver contaminação. Depende do
peso dos partidos.”
Importância da mediação
Paula do
Espírito Santo salienta ainda o papel da comunicação social na
construção de um projecto populista. “Um líder só é populista se os media lhe derem espaço, a sua construção faz-se pelos media”,
defende, argumentando: “É a desconstrução do discurso do líder, que
perpetua a sua mensagem mesmo que de forma negativa e crítica. O que
somos hoje em democracia muito devemos aos media, mas acabam
por dar visibilidade e transformam o fenómeno do populismo em bola de
neve. Mas é um mal necessário, faz parte da democracia.” E exemplifica:
“Trump usa os media que estão contra si. Ele é o centro e conduz a orquestra. Acaba por ser dominante.”
Susana Salgado sublinha que, “em Portugal, o PNR é excluído dos media,
há o travão dos jornalistas que dizem o que são os temas que não querem
cobrir”. Uma situação que não acontece em muitos países. A
investigadora do ICS refere que “isto é dinâmico e em evolução”,
prevendo que nas europeias de Maio de 2019 “vai haver escape populista
noutros países e cá pode surgir com mais espaço, mas depois nas
legislativas baixará”. Isto acontece, porque, “os temas europeus tendem
mais a isso e os eleitores estão mais livres para votar, muitos
populistas têm sido eleitos para o Parlamento Europeu com agenda
anti-Europa”, explica. Mas não acredita que haja tempo para vingar um
projecto partidário populista já para o próximo ciclo eleitoral.
As novas redes sociais são agora determinantes, defende
Susana Salgado. “Há diferenças na forma de comunicar das novas gerações.
As redes sociais potenciam o populismo, que sempre houve, mas era
mediado pelos jornalistas. Agora a opinião e a informação passa
directamente e pode potenciar o populismo e ter impacto no discurso
político, porque se pode dizer as maiores barbaridades sem travão, de
forma inconsequente e sem responsabilização, porque a comunicação não é
mediada pelos jornalistas”.
Enviado por Denúncia Anónima
Quinta-feira, 11 de Junho de 2020 10:21
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