COVID-19: a segunda vaga



É possível colocar este texto público do Facebook no CM? Li e acho que todos deveriam fazer o mesmo. Também considero que deveria ser o CM a divulgar porque tem todo um simbolismo que está expresso no texto:

No tempo de Jardim, havia órgãos de comunicação a favor e havia contra. Uns declaradamente mais à Direita, outros mais à Esquerda. Mas era claro, transparente. Hoje tudo parece turvo pela mesma lama. Mal escondida e mal limpa pelos "cadernos a quilo" e páginas de publicidade. Têm donos que nos fazem suspeitar. Onde estão vocês quando mais precisamos de questionar, de estarmos informados, para podermos escolher, exigir, se só nos repetem, sem qualquer acrescento o soundbyte da governança.

Agradeço no caso de ser atendida. Bom trabalho.

Enviado por Denúncia Anónima
Terça-feira, 30 de Junho de 2020 14:32
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"Volto a publicar o meu texto do dia 13 de Maio.

E nquanto Veneza fechava o seu Carnaval, o nosso secretário do Turismo sambava na avenida com o governo todo. Economy first. Depois, a custo e na inevitabilidade, lá tomaram medidas. Depois, foram as quarentenas com excepções atrás de excepções e, sinceramente, acho que tivemos mesmo foi muita sorte mais do que rigor e seriedade. Agora vem o desconfinamento à balda. Os ginásios, a bola, o rally, as obras, as lojas, os restaurantes, a poncha. Vamos embora para a rua.

Os jornalistas do costume também anunciam nas suas páginas de facebook que já passou tudo, como se repetissem irresponsavelmente um soundbyte, um frete por um subsídio. Por uma migalha, por um cargo de assessor numa secretaria ou quem sabe, com o próprio presidente - O Deus sobre-Humano Albuquerque, com barbas o mais belo.

Os subsídios estão prometidos mas o dinheiro não chega. As empresas padecem mas vão abrir sem clientes que justifiquem a abertura, o turismo vai funcionar sem aviões nem turistas. As pessoas vão para a rua mas com dificuldade em comprar máscaras, porque estão a preços insuportáveis. Nem há onde promover a ilha. Vem aí a segunda vaga.

Não é fatalismo, não é "querer mal à terra" como a "sabujada" assustada com o fim da teta diz sem sequer pensar. É o contrário. Amo os meus e muitos dos que não são meus. Amo gente que nem me conhece. Madeirenses que admiro em silêncio e em ruído se tiver que ser. O virus não chegou num dia. Foi vindo devagar da China, de país em país, até chegar cá. E chegou como todos saberíamos que ia chegar. Mas, em vez do anunciado rigor, da tão propalada precaução, sambou-se até não ser possível sambar mais. Os nossos jornalistas, os nossos governantes, a nossa oposição, os nossos religiosos, os nossos vizinhos, alguns mesmo nas nossas famílias. Minimizaram. Tivemos sorte.

Vem aí a segunda vaga. Não é fatalismo. Está a acontecer em todos os países, na reabertura. Gritam-nos "Preparem-se. Não facilitem". Nós queremos começar a bola com jogadores infectados, brincar aos destinos covid-zero, mandar as crianças para as creches e para as escolas, toda a gente para a rua.

Precisamos de pensar um plano de contingência. De não baixar a guarda. Estamos avisados. Outra vez. Da segunda, podemos não ter tanta sorte.

Os jornalistas... No tempo de Jardim, havia órgãos de comunicação a favor e havia contra. Uns declaradamente mais à Direita, outros mais à Esquerda. Mas era claro, transparente. Hoje tudo parece turvo pela mesma lama. Mal escondida e mal limpa pelos "cadernos a quilo" e páginas de publicidade. Têm donos que nos fazem suspeitar. Onde estão vocês quando mais precisamos de questionar, de estarmos informados, para podermos escolher, exigir, se só nos repetem, sem qualquer acrescento o soundbyte da governança. Um soundbyte sem sentido - Está tudo bem. Vencemos e somos os maiores. Mas fique em casa. Não vão para os Shoppings.

Se tudo falhar, montem um telescópio na Ponta do Pargo e um no Caniçal. A ver se percebem que há vida logo ali depois da linha do horizonte e que nós, nós sim, somos pequeninhos. Precisamos de ajuda. Até porque nenhum país sai disto só. Muito menos uma ilha "tesa" sem telescópios."

Nuno Drummond